Raquel Venceslau

Conheça nossos alunos, alunas e pilotos. Contamos um pouquinho sobre suas vivências, histórias, sucessos, fracassos, alegrias, aventuras e ideias. Cada um faz parte da Grande Família Vento Norte Paraglider.

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Era sete de setembro de 2015 quando o Sandro Bic (piloto de parapente e avião, motoqueiro e analista de sistema) convidou sua amiga e colega de trabalho, também da área de TI, Raquel Venceslau para acompanhá-lo em uma viagem de moto. A Raquel tinha bastante experiência em estradas. Aos 28 anos se aventurou no pedal com o objetivo de chegar em Torres, acompanhada apenas do seu foco insaciável. Saiu de Curitiba com a bike e as “troxas” no dia D e na hora H embaixo de chuva e seguiu molhada até o km 10, 50, e lá pelo km 100 decidiu comprar uma barraca, que no km 200 seria doada. Ela não havia romantizado a aventura em duas rodas, mas daqui até Criciúma foi assim, no aguaceiro das estradas até doar sua bike para os cafundós dos brejos no km 458 com a frase final: Vá com Deus! E pegou um “busão” para finalizar a aventura que nos contou anos mais tarde, enquanto voltávamos de um ano novo em Guaraqueçaba, que o foco não era voar, mas remar e “caçar” cachoeiras.
caiaque raquel venceslau
Canal do Furado – Guaraqueçaba – Raquel Venceslau
Com o mundo dos ares já era outros quinhentos, nada sabia sobre o assunto até a viagem de moto com o Sandro Bic, onde expandiu e sacudiu suas possibilidades de vivências e mudou seu estilo de vida. A parada que fez a virada de mesa foi na cidade paranaense que tem paisagens de tirar o fôlego, Ribeirão Claro, que estava sediando um evento do voo livre. Logo que viu ficou inquieta; “Quero fazer isso aí! Quais são os desafios para eu começar a voar de parapente?”

Em primeiro lugar o financeiro causava certo receio, pois as contas fixas como aluguel, água, luz, telefone já ocupavam parte do seu orçamento, e iria assumir mais um compromisso financeiro mensal, afinal era pagar o curso, depois de um tempo o equipamento próprio, e isso foi resolvido com parcelas que cabiam dentro do seu orçamento. Em segundo lugar sempre achou que um dia se encontraria nos esportes aquáticos, pois sempre amou a água. Em terceiro lugar porque nunca tinha pensado em ser piloto de qualquer coisa aérea, mas uma semana depois da viagem já estava aqui na Vento Norte realizando as aulas teóricas e práticas.
Determinadíssima, se cobrava ao máximo. Isso provavelmente tenha aprendido com a sua mãe, que foi professora e hoje é aposentada. “Minha mãe nunca me colocou medo pra fazer nada, me ensinou a trocar pneu, chuveiro, a me virar e ser independente.” A cada pouso já soltava para nós: Cara, onde eu errei? Onde está o meu ponto fraco? Mesmo quando o voo era perfeito, não saia em busca do elogio, mas do crescimento esportivo.

Raquel Venceslau

Tirou um mês de férias para ficar na Ilha do Mel focada no controle de solo como nas horas de lifts. Como o céu não se importa nadinha de nadica com os nossos objetivos e planos, durante os 30 dias, pois é, choveu. Obstáculos no caminho faz parte.
Em um ano a Raquel atingiu seu objetivo de acumular uma quantidade de horas de voo especificas, como também conhecer muitos lugares de voo.
O pai da Raquel sempre achou a filha inteligente, que poderia ser e fazer qualquer coisa que teria sucesso, que não colocasse limites nos sonhos e nas ações, mas que sempre fosse honesta. Ele era comerciante, e isso deu uma segurança para a filha se arriscar em empreender. Pediu demissão do antigo trabalho para abrir um bar no Água Verde, Os Insolentes, e obviamente que a Grande Família Vento Norte estava sempre por lá e até hoje temos saudades dos “velhos” tempos. O bar exigiu muito tempo, ficou cerca de um ano afastada do voo livre, até decidir que não era aquilo que queria como vida. Se livrou do bar e voltou ao mundo dos ares com mais gana. Começou a participar dos campeonatos para desenvolver as técnicas de cross country, e nesta descobriu uma nova paixão, a competição, que também expandiu para as realizações de SIV (Simulação de Incidentes em voo).
Campeonatos de Paraglider
Todo este foco esportivo atraiu patrocínios, em primeiro lugar da excelente empresa que faz parte, a TOPI, cujo o dono é apaixonado por esportes de ação e patrocinou o equipamento de competição da Raquel, da Gin Gliders Brasil, com todo apoio no equipamento, e o Mauricio Braga que super incentiva e apoia seus treinos no SIV.
Ao mesmo tempo que a Raquel avançava em seus conhecimentos, campeonatos e habilidade também se envolvia nas organizações esportivas do Clube de Voo Livre Cordilheira do Santana, da Federação Paranaense de Voo Livre e dos Jogos de Aventura e Natureza, do qual colaborou muito em todos.

patrocinio esportivo

Final de 2019 decidiu se mudar para São Paulo para reduzir custos (ela vivia em ponte aérea Curitiba – São Paulo), e assim estar perto dos clientes, mas especialmente e principalmente voar mais, que era uma ideia que alimentava desde que conheceu a rampa de Andradas. Ideia que se apresentou equivocada na prática, vivendo no coração pulsante do Brasil, descobriu que os curitibanos são felizardos. A logística em Sampa é mais complexa, mais cara e a frequência de voo é menor. Raquel tem registrada 200 horas de voo, das quais São Paulo não acumulou 30 horas deste total registrado.
Sampa se mostrou um grande desafio. Mesmo gostando de morar, viajar, e ser sozinha, ter o seu espaço, em São Paulo, longe da família e dos amigos, sentiu falta do nosso estilo de vida, em que estava sempre com a galera, um na casa do outro, nos acampamentos, barcas. A saga do ano solitário seria prolongado para todos durante a pandemia, e as palavras isolamento, distanciamento e sobreviver marcariam o ano.

Nas poucas idas para a rampa, durante um pouso a Raquel acertou um cupinzeiro e quebrou o tornozelo, de bobeira, e sua independência e pro atividade ficaram limitadas. Nesta aprendeu a pedir ajuda, coisa que não lhe agradava. Recuperada, retornou aos campeonatos logo que foram permitidos, e no primeiro deles contraiu COVID- 19, que a isolou novamente. Se proclamou a “manca do covid”. Bom humor é tudo gente!
Demorou algum tempo para recuperar a capacidade pulmonar, o cansaço e a indisposição ocasionados pelo vírus, mas quando passou já estava mais madura e mais forte. Depois de praticamente um ano de isolamento e projetos interrompidos, tirou o pé do acelerador no quesito alta performance esportiva, diminuiu a cobrança sobre si mesma, parou de cobrar de si um resultado similar ou melhor de quem tem 20 anos de voo, afinal ela tem 4 anos de voo e muitas histórias no esporte. Comprou uma segunda selete(cadeirinha que o piloto senta) para lazer, aberta e mais leve para fazer o hike and fly (caminhar nas montanhas e voar), decidiu espalhar o seu lazer em mais atividades, claro que o mar entrou, e o surf dá o ar da graça. No dia a dia está focada na saúde, na alimentação, nas atividades físicas e no bem-estar mental, e é com esta energia de alguém que amadureceu no “miserável” ano de 2020 que ela assume a presidência da Federação Paranaense de Voo Livre, por amor ao esporte e vontade de retribuir tudo que o esporte proporcionou de aprendizados e alegrias. Talvez seja a primeira mulher no comando da nave, entretanto ela não gosta que se refiram desta forma, e a razão é: “quero que falem pela minha competência, e não pelo meu gênero.”
Isso certamente ela já atingiu!

Vento Norte Paraglider

Uma escola movida pela emoção, feita por aqueles que amam os desafios.

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Confira a entrevista realizada com a Raquel 4 anos atrás, quando estava em seus primeiros meses de voo livre.

Vento Norte: Qual é a emoção envolvida em ser piloto de parapente?
Raquel: É bem difícil tentar descrever esse tipo de sensação. Acho que o voo me traz liberdade que outras atividades não oferecem. Essa sensação não vem apenas de poder olhar tudo lá de cima, mas de um conjunto de decisões que você vai aprendendo a tomar, e para poder acertar você acaba precisando ampliar a percepção para vários detalhes que antes passavam despercebidos, como o vento, as nuvens, diversos eventos da natureza e forma com a qual eles se relacionam, bem como o nosso comportamento diante de tudo isso. É um negócio meio desafiador ao mesmo tempo em que é contemplativo, uma solitude boa…

Vento Norte: O que você considera ser a maior dificuldade no voo?
Raquel: Ainda estou no inicio do esporte, então considero que a primeira dificuldade é conseguir responder de forma adequada a um ambiente e equipamentos aos quais não estávamos acostumados. Foi importante aprender a não me cobrar demais nisso, pois cada um tem um ciclo de aprendizagem inicial que é independente do perfil que desejaremos seguir como pilotos. A persistência é mais eficiente do que contabilizar o tempo em que cada coisa aconteceu.
Outra dificuldade é a nossa percepção sobre a evolução no aprendizado. De repente as coisas começam a fazer sentido e a curva de aprendizado aumenta bastante, isso dá a impressão de termos controle e de estarmos nos saindo melhor que um padrão criado por nós mesmos. É necessário constantemente refletir para não se deixar levar por esse tipo de coisa.

Vento Norte: Pode considerar que o voo livre mudou sua maneira de encarar algumas situações, sejam elas profissionais, espirituais, sociais e outros, ou que mudou em sua vida depois que passou a praticar o esporte?
Raquel: Sim. Já me dediquei a vários interesses diferentes, quer seja para sair da rotina, por aprendizado, para atingir um ideal ou até mesmo para ter assunto, mas nada me trouxe um retorno tão completo.
O parapente veio em uma época de questionamentos em relação à carreira e a um estilo de vida que eu costumava defender, mas que já não estava me levando a nada diferente do que eu já havia vivido. Eu costumava gastar bastante tempo e dinheiro com coisas que serviam apenas para anestesiar uma rotina que não servia mais. O voo ajudou a mudar essa perspectiva.
Outra questão interessante é que no voo temos contato com pessoas das mais variadas áreas, cada qual com suas características e pontos de vista. É uma boa oportunidade para observar e respeitar isso.

Vento Norte: Possui algum sonho no esporte a ser realizado ou conquistado?
Raquel: Voar de cross country. Também quero poder viajar para conhecer novos lugares e rampas.

Vento Norte: Tem algum momento que considera mais especial que os demais?
Raquel: A primeira vez que eu fui com a escola pra Ilha do Mel. Eu nunca tinha voado, nem de duplo. A condição estava tranquila e o vento fraco, ai consegui fazer meu primeiro voo (um prego bem digno até). Depois, no mesmo dia ainda voei de duplo e foi só alegria ver a ilha inteira lá de cima!

Vento Norte: Já voou em quantas rampas de voo? Dessas rampas tem alguma que você tem um carinho mais especial?
Raquel: Por enquanto somente no Morro do Cal/PR e Ilha do Mel/PR.
Tenho um grande carinho pelos dois lugares por que eles proporcionam experiências diferentes que acabam se complementando no meu aprendizado.

Vento Norte: Já passou por algum incidente ou acidente, se sim o que houve e por que?
Raquel: Levei uns arrastõezinhos engraçados no inicio, mas foram suaves.
Obs: arrastões quando mencionados referem-se ao treinamento em solo.

Vento Norte: Que dica você orienta para aqueles que estão começando no voo livre ou que pretendem iniciar no esporte?
Raquel: É igual escolher a pílula vermelha do Matrix. Não tem volta e você nunca mais vai enxergar as coisas da mesma forma, e não vai querer parar! Constantemente você será pego olhando para o céu, inclusive vão começar a te achar meio maluco(a) por isso. Provavelmente você vai abrir mão de outras coisas que nem eram tão importantes assim. Respeite suas características individuais e tenha opinião própria, mas não seja teimoso. O voo acaba sendo essa questão de equilíbrio.

Vento Norte: Se quiser deixar um depoimento para a Vento Norte, pilotos e alunos sinta-se a vontade!
Raquel: Agradeço o trabalho honesto e de qualidade da equipe Vento Norte e também a paciência infinita do Márcio, Kauan e Natan. Sinto-me satisfeita por ter optado por uma escola com uma ótima estrutura, tanto nas aulas teóricas quanto nas práticas e que trata os alunos de forma individual. Fico feliz por vocês participarem de cada conquista!

Vento Norte: Agradecemos a conversa, o carinho e o reconhecimento pelos instrutores, alunos e pilotos, Raquel. Muito obrigada por compartilhar e deixar compartilharmos sua experiência, sensações e emoções!

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Por falar em mulheres no comando, você conhece os ODS?

Os ODS são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma coleção de 17 metas globais, estabelecidas pelas Nações Unidas para organizar a agenda 2030.

Cada meta global é ampla e interdependente, com uma lista de sub-metas a serem alcançadas, desde desenvolvimento social, econômico, educação, pobreza, fome, saúde, saneamento, energia, meio ambiente e justiça social. Metas ambiciosas, entretanto, se todos usarem seu poder transformador poderemos ter mais polinizadores para a mudança que queremos ver no mundo. E nós, como escola e habitantes deste planeta lindo e repleto de desafios queremos estar no time que faz parte da solução e aproveitaremos este artigo para divulgar o Quinto ODS – Igualdade de Gênero, pois é queridos leitores, em todos os nossos artigos somos intencionais, queremos provocar a mudança para um mundo melhor.

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas

O ODS número 5 tem como objetivo geral: Alcançar igualdade de gênero e empoderar as mulheres e meninas.

Não no sentido de dar poder a alguém, pois todos nós já nascemos com o poder, trata de garantir que mulheres exerçam o seu direito de usar o seu poder.

Os objetivos específicos são:

5.1 Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte.

5.2 Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos.

5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas.

5.4 Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais.

5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.

5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão.

5.a Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais.

5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres.

5.c Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.

Confira os detalhes do ODS -5 aqui.

 

2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pela matéria e para minha amiga Raquel! Desejo sucesso nesta jornada que mistura desafios e sonhos, sempre com muita vivência inspiradora!

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