“Son cosas que se passa”: Uma expressão que define nossa jornada no MAEF

“Son cosas que se passa,” foi o que Daniel, um dos nossos instrutores lá no Deserto do Atacama, me disse uma vez. Pode ser usada para simplesmente dizer “acontece” como também “vai passar”. Desde então, adotei essa expressão no meu repertório, e ela se encaixa perfeitamente na semana do Mata Atlântica Ecofestival (MAEF). Vou contar umas das coisas que se passou.

Unindo Cinema, Esportes, Conservação e Mudanças Climáticas

A Cinemateca de Curitiba, também parceira do MAEF, lançou um desafio chamado “Hacka Clima”: a missão era criar um curta-metragem de 3 a 8 minutos em poucos dias (desafio velocidade na produção), focado no cidadão comum lutando contra as mudanças climáticas. Os participantes foram convidados a assistir e analisar filmes selecionados pelo pessoal do Mata e se aventurar numa jornada de aprendizado em cinema e mudanças climáticas, aprimorarem e ampliarem a escuta ativa e o olhar curioso sobre como a arte é explorada em cada filme do Eco Festival, que também foi anfitrião do tuor mundial do Vancouver International Mountain Film Festival que possui os objetivos de promover a oportunidade das pessoas desfrutarem de alguns dos melhores filmes de montanha do mundo, angariar fundos para causas locais e apoiar cineastas talentosos. Ano passado quem fez a curadoria dos filmes inscritos no MAEF foi o surfista e filmmaker Roland Roderjan. Este ano o Festival ficou melhor do que já era, e contou com muitos filmes da nossa região, confere dois deles!
Curupira – Mãe da Floresta, foi um dos curtas selecionados.

Assim como o Tintureira, um documentário de Gabriel Marchi sobre o projeto e a missão de pesquisadores em busca do Tubarão-tigre no litoral do nosso estado. Um documentário repleto de aventuras, lendas e que mostra a realidade da pesquisa com tubarões no nosso país.

A programação foi simplesmente genial, conectando-se totalmente com o espírito esportivo do evento. Pensamos, olha a oportunidade que a Cinemateca esta nos presenteando com o apoio do MAEF! Aprender mais ainda sobre clima e a arte de criar curtas para eternizar as paisagens incríveis que nós desbravamos nos voos.
A equipe da Cinemateca para o Hacka Clima foi composta por grandes profissionais com quem os participantes conversaram, ouviram e debateram temas relevantes.
Paulo Nobre, meteorologista, cientista e climatologista brasileiro com reconhecimento internacional.
Wilson Nobre, que foi quem conduziu o Hacka Clima, é engenheiro mecânico, professor do Departamento de Produção e Operações e Pesquisador do Fórum de Inovação da Fundação Getúlio Vargas. Consultor em automação industrial, de processos de negócio e em tecnologias de projeto de engenharia, além de também ser consultor e facilitador de iniciativas nas áreas de desenvolvimento sustentável e segurança pública.
E ainda o Marcos Saboia, coordenador da Cinemateca orientando as ideias dos participantes.
Sugeri participarmos com nossos pilotos e alunos e alguns abraçaram o “Hacka Clima,” inclusive eu e o instrutor Márcio, para tentarmos de alguma forma construir o curta envolvendo a visão do ar, do parapente.
Depois dos primeiros cinco dias de aprendizado, estávamos em um barco com mais pilotos e alunos(as) da escola do que no início da ideia, mas o problema era que a folha(roteiro) estava em branco. Culpa dos horários do mundo dos adultos que não bateram com as aulas da Cinemateca, e quase ninguém conseguiu participar das aulas, exceto a nossa alada Alanna, que marcou presença num debate. “Son cosas que se passa” na correria da vida.
Por aqui, quase desistimos, mas a alada estava tão animada, bolou com a Ari um mapinha com os tópicos que queriam no roteiro, e o André chegou a criar a Sophia, uma “Heroína do Clima”.
Confere o engajamento da Alanna e da Ari através dos mapinhas:

Hacka Clima e Arte no Mata Atlântica Eco Festival

Quando a natureza impõe desafios: Ventos e Chuvas

Com todas essas ideias já tínhamos um ponto de largada, um esboço de roteiro, sabíamos mais ou menos o que filmar no fim de semana que se aproximava, e aí veio o dilúvio. Choveu, choveu e choveu. Nosso esporte não é praticado na garoa, nem na chuva e muito menos no dilúvio. A Cinemateca prorrogou o prazo para todos os participantes, e isso, claro, deu uma chance de gravar no fim de semana seguinte, que ventou, ventou e ventou. Nosso esporte não é praticado com ventos fortes, ventanias e tampouco em extra ciclones e ciclones. Roteiros para o espaço. “Son cosas que se passa.”
A maioria do pessoal desistiu porque já não sabiam como ajudar nessa altura do campeonato. E a nossa Alanna, que é tipo o Joseph Climber, não se deixou abater tão facilmente, disse:
– Vamos usar acervo!
– Qual acervo, Alanna?, perguntei.
– Pede para o fulano, o deltrano e o cicrano, ela disse.
Aí pedi pro Márcio, pro Rafa, pra Raquel, pro Michel, pedi até pro universo, imagens lindas da Mata Atlântica vistas do alto, em voo, em 4k na horizontal, tudo para não deixarmos a Alanna sozinha no barco, e fazer o “Hacka Clima Vento Norte” acontecer. Quem diria que num grupo cheio de pilotos, ninguém filmava em 4k na horizontal? O número de filmagens nessas configurações era ínfimo, e não atendiam 30% do que buscávamos. Culpa do Instagram!
– Alanna, não temos as principais imagens que queremos e agora não temos mais roteiro! (eu disse, confesso que tentei convencê-la a desistir.)
Parecia que tinha dado certo, ou quase isso, mas eis que o nosso alado, Kris Natal, propõem uma nova ideia, faltando apenas três dias para o prazo final.
– Eu estou trabalhando, você também, e todo mundo também. (eu disse)
– Mas vai dar certo, a gente consegue. (ele disse)
– Mas hoje a noite você vai estar cozinhando no “Master Chef Vento Norte”, como vai narrar depois? (eu disse)
– A gente dá um jeito. Domingo eu faço. (ele disse)

Superando obstáculos e entregando o projeto.

Sexta-feira, peguei o branding da escola, alguns trechos e inserimos como roteiro, a Alanna escolheu as imagens e alguns vídeos. Organizamos a ideia virtualmente. Um espião chamado Weta Gigante, um inseto que esta entre os maiores e mais pesados do mundo entrou em nosso projeto. Vai saber o que ele queria e como entrou!  Trabalhamos com o grilo gigante nos espiando, até que desistiu de nos atacar e evaporou. O Kris ajustou as velas, e na segunda-feira de manhã (4h00 da madrugada), o nosso curta-metragem, que enfrentou ventanias, tempestades e o grilo gigante, foi o primeiro a chegar ao porto no prazo combinado! O que ocasionou uma terceira prorrogação para os demais competidores, e nem temos ideia de quantos dias se passaram da prorrogação, se uma ou duas semanas a mais. Se a gente soubesse disso antes, hein? Pensamos: “Son cosas que se passa.”
O mais importante para nós é que nos desafiamos a fazer algo que não conhecíamos, nem dominávamos. Adotamos a atitude: “Permita-se criar.” Tivemos medo. Medo de errar em todo o processo de cinema que não temos nenhum conhecimento. Medo de não fazer o mínimo por conta do pouco tempo disponível, mas não queríamos ficar paralisados na ideia do “vai ser um fiasco”. Levamos adiante o “Hacka Clima Vento Norte” de maneira leve, divertida e com a empolgação de uma equipe que descobre novos horizontes e formas de aprender mais coisas, sem medo de errar. Movidos pela emoção, impulsionados pelos desafios.
Não vamos omitir o fato de que todos nós somos engajados com os temas propostos pela Cinemateca. Cada um que tentou de alguma forma contribuir com o curta, em seu cotidiano, realiza alguma das ações para transformar o mundo em um lugar melhor. Separa e recicla lixo, trabalha com sustentabilidade, ESG, cultiva abelhas, capta água da chuva, tem painel solar, adota consumo consciente, faz compostagem, reduz o plástico, entre tantas outras frentes que envolve muitas coisas. Aqui entra também o propósito do Mata Atlântica Eco Festival – Muitas Tribos, Uma só Voz! Onde todos nós, empresas, atletas, público em geral, buscamos adotar, incentivar, criar e buscar práticas e soluções sustentáveis dentro das nossas atividades profissionais e pessoais. Se você quer saber mais sobre o tema, recomendamos o documentário: Rompendo Barreiras, disponível no Netflix.

Reflexões sobre “fazer bem feito” e aprendizado contínuo

A Luciana Pianaro, CEO da Vida Simples, escreveu no artigo “fazer bem feito”:
“ Fazer bem feito é um objetivo a ser buscado. É o esforço dirigido a cada atividade que nos torna mais realizados. Entretanto precisamos entender que fazer bem feito não significa atingir uma perfeição utópica, isso é paralisante, mas entregar o resultado de qualidade e relevante para aquele momento. Compreender as dificuldades e reconhecer quão aplicada aquela pessoa se mostrou para construir um ambiente saudável e de aprendizagem constante. Quisera eu que todos tivessem a oportunidade de aprender essa lição, cercados de afetos. A busca por fazer bem feito é uma trajetória de erros, aprendizado e aprimoramento. Ainda que enfrentemos obstáculos.”
Com isso reforçamos; os obstáculos  “son cosas que se passa” e que aprendemos com eles. Não leve tudo tão a sério. Jamais iremos controlar o rumo dos ventos, mas sempre podemos ajustar as nossas velas e navegar com carinho, gentileza, entusiasmo, alegria, coragem, diversão e leveza. Isso é uma escolha minha, sua e nossa, e que no final se transforma em experiência, lembranças muitíssimo especiais, e muito além, um start para uma nova aventura; Família Vento Norte rumo a produzir curtas metragens para contar as coisas que a gente vê por aí e como podemos ser a transformação que queremos ver no mundo.
Claro, não vou me despedir sem mostrar o que conseguirmos fazer em 3 dias:

As imagens contém contribuição dos acervos do Rafa Pé (Wojcki), que são imagens dos voos, do Kris Natal – imagens do mergulho, da casa sustentável, das abelhas e da entrevista com o coletor de materiais para a reciclagem, da Ari (o Ale separando o lixo), do Rafael Bario, da Fly Filmes durante o nosso hik’n fly MAEF 2022, da Alanna com as montanhas do Paraná, e do banco de dados do Canva. A organização das imagens foram elaboradas pela Alanna e pelo Kris, que também narrou o roteiro que foi criado pela Nicolle Muraro (eu).

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