Estamos a poucos dias de começar o maior encontro feminino da história do voo livre: o Saia Para Voar!
Conhece? Não?
Eu te apresento, quer dizer, o Canal OFF apresenta:

Pela primeira vez o encontro será realizado nos ares do Sul, na acolhedora cidade de Pomerode, durante o feriadão de 12, 13 e 14 de outubro e a pouquíssimos quilômetros dali rolando a Oktoberfest, de caso pensado. Cla-ro!
Na loucurada toda que é organizar um evento deste porte, conseguimos fisgar a idealizadora do movimento, Pri Saran, entre um check-in e outro check-out, aos pés do Vulcão Villarica, e em outro segundo em meio a Grande Santiago, a caminho de retornar para a sua amada terrinha de Tupiniquins, levantando voos, com e sem trocadilhos, para falar sobre o que à inspira voar e à unir a mulherada alada.
Caro(a) leitor(a) sentiu-se perdido nos lugares mencionados?
 
Imagine o que é conversar com a mineirinha, de Santa Rita do Sapucaí, que testa seu senso de elasticidade, elevando-o tanto, que quanto mais se olha, mais aparece coisas para ver e falar. Implacavelmente sensível, só poderia se declarar escorpiana dos pés à cabeça.
 
Pri Saran contribuí com o seu biógrafo. Analista de sistemas, especialista em marketing digital, coach de talentos, empreendedora incansável, transformou sua casa no UaiFlyHostel, para receber os amigos de asas, pertinho de uma senhora respeitável rampa de voo livre. Diz que voa menos que queria, e mais do que achava que algum dia conseguiria. Afirma que até então, mais agitou que voou. Em mais de 10 anos de voo livre, fez parte da organização de mais de 20 eventos de destaques no esporte (um grande aprendizado), e voou menos de 50 horas. Segundo ela, seu foco para o ano seguinte é: a prática intensa do esporte, quando pretende superar não somente seus números, mas muito mais de si mesma.
 
Terrivelmente exposta a vida (que coisa boa né!), quando estava pertinho de completar mais uma primavera, no ano passado, o tal inferno astral chegou causando mesmo! Se viu como alguém que só corre de um lado para outro, trabalhando, trabalhando e trabalhando, enquanto a vida passava. Deu ruim! Essa coisa de refletir que agora seu tempo ficou menor para realizar os sonhos, e a depressão entrou no recinto. Deu boa! A tal pitada de pólvora, engenhosamente colocada para explodir quando pisasse em seu aniversário. Ela pisou, a pólvora explodiu, e o resultado disto tudo é que a exuberância da sua mente a arremessou em uma viagem pela América do Sul, praticamente a bordo de imprevistos que ocorressem pelo caminho, sem abandonar nesses 6 meses de andarilha, algumas importâncias de sua vida. Entre seus tesouros, seu filho Gabriel, de 16 anos, e o Saia Para Voar, movimento que inspira e fortalece tantas aladas, que já estão a contar os dias para o encontro.
Curiosidade: Mulherada Alada, vocês são raras! A Pri Saran acha que o número de mulheres que voam de parapente no Brasil, é uma incógnita, já que descobriu-se um número maior do que o imaginado. Ela estima um time feminino de aproximadamente 500 mulheres aladas por todo o Brasil. Número que vem crescendo notadamente após a criação e união do Saia Para Voar.

Pri Saran e o seu nascer de asas

Quando pequena tinha um sonho constante, onde corria muito, esticava os braços e lá estava alçando voo para o céu, como num passe de mágica. A sensação e imagem de flutuar sobre um tapete de nuvens abaixo de mim nunca me saiu da memória. Esse sonho não seguiu latente, creio que, devido ao medo de altura que adquiri junto com alguns condicionamentos, no decorrer da vida e dos ventos.

Não decidi nada, acho que o universo decidiu por mim, risos. Como já comentei antes, com o tempo adquiri um medo de altura. Nunca me achei radical e tampouco corajosa para os esportes extremos. Nunca pensei ou cogitei sobre voar livre. Um dia, para a minha sorte, o universo me colocou no lugar certo e na hora certa – era dia das mães de 2007. Durante o almoço em família, no pesqueiro (sede do clube de voo da minha cidade), fui intimada pelo meu “irmão” Maurão, para um voo duplo. Lá fui, sem pensar e analisar muito a situação. Me dei conta, na verdade, quando ele gritou: corre! Naquele momento achei que iria morrer. Hoje afirmo que renasci, depois daquele grande dia. Que alegria!

Esse voo duplo aconteceu há 11 anos atrás. Na sequência decidi que queria voar sozinha. Queria poder sentir aquela sensação quantas vezes quisesse e pudesse. Sempre que encontrava o Maurão, implorava para me ensinar a voar. Naquela época ele só competia e voava (e muito, como sempre). Depois de tanta insistência, 9 meses depois (um parto!) ele me liga para dizer que estava indo fazer a Clínica da ABP (Associação Brasileira de Parapente) para se tornar instrutor e que eu seria sua primeira aluna. Aquele dia sentei e chorei. De emoção, de gratidão. Acho que também já pressentia que uma fase de extrema emoção, superação e transformação estaria por vir.

O que o voo significa em sua vida?

O voo para mim significa transformação, superação, união e muita emoção. O voo me fez deixar de ser lagarta para poder virar borboleta e alçar voo, encarando os meus medos e limites. Revigorar a minha paz interior, num momento mágico e pleno no céu, onde só se escuta o som do silêncio. Se sente a imensidão e gratidão, pela grandeza da natureza e pela nossa destreza de poder flutuar no céu, um grande privilégio e merecimento. Para poucos.

Primeiro voo mais pertinho da cidade onde nasceu, em Santa Rita do Sapucaí – MG

Não exagero em dizer que o voo livre mudou a minha maneira de encarar, viver e sentir tudo na minha vida. E olha que nem voei tanto! No começo, adquiri um tanto mais de paciência, que era uma grande ausência naquele meu momento de carreira e vida. Vivia ansiosa e preocupada, com as tantas tarefas que tinha que balizar todo santo dia e mês. Ser mãe, filha, tia, irmã, dona de casa, empresária, tantas vezes voluntária e ainda tinha que sobrar tempo para ser mulher!? O desafio era grande, o ciclo turbulento e tudo que eu precisava era de leveza, de me deixar flutuar!

Voando em Iquique, Deserto do Atacama, Chile.

O voo me exigiu ser capaz de desligar-me de tudo, para poder voar e pousar com segurança. Conectar-me de forma mágica e plena com o mundo. E que não se explica, se sente. Com o voo aprendi a respirar fundo. A ajustar o foco das minhas superações e a enfocar nas minhas comemorações. A esperar e a aceitar mais o tempo das coisas. Deixar o vento soprar e a natureza florir. É assim que o universo funciona. Depois de um voo, a gente não consegue parar de rir!

Aguardando para realizar o primeiro voo de litoral. Praia Mole, Floripa, em 2012.

Experimente fazer um voo no por do sol e vai entender, porque vai ser capaz de sentir!

A parte social também foi uma transformação. O voo livre, além de asas, me deu uma família gigante, unida e sempre de asas abertas. Isso ficou muito mais claro e se confirmou fato durante as minhas andanças recentes pela América do Sul.

Fora da zona de conforto = quando a gente mais se sente sozinho e/ou inseguro! Encontrei pilotos nas situações mais inusitadas, recebi muitas mensagens de boas-vindas e apoio por onde passei. Muitos eu nem conhecia, ou nem lembrava, mas lá estariam eles, dispostos a qualquer apoio e atenção necessária. É como me sinto quando estou em casa, com toda a minha família brasileira de asas. Seja onde for, sempre tem um par de asas abertas e atenta, pro que der e vier, e para o que for. Sou muito grata por esse presente que o voo livre me trouxe também.

Você é a idealizadora do Saia Para Voar, como surgiu a ideia de reunir as brasileiras?

Quando comecei a voar tive um pouco de dificuldade. É um grande desafio ser mulher e praticar um esporte predominantemente masculino, por mais que o voo livre não tenha nada a ver com força física. Rola um certo preconceito, alguns por vezes querem entender e julgar qual é a real intenção da piloto no voo. Como se entender, julgar e explicar fizesse parte do processo! Por vezes rola até isolamento, tipo clube do bolinha sabe? Rsrs coisa chata, mesmo que por muitas vezes involuntária.

Essa percepção junto com outras dificuldades que eu tinha para a prática do esporte, em 2012, começaram a me desanimar. Despertei a curiosidade a saber mais sobre o universo feminino no voo, se haviam outras pilotos que sentiam as mesmas dificuldades e buscavam também um grupo de amigas, para sair para voar juntas, por pura conexão e diversão, sem competição, afinal os homens são muito mais competitivos na prática do esporte, na minha perspectiva.

Criamos o grupo Brasileiras Aladas nas redes sociais. Rapidamente atingimos os três dígitos, nos descobrimos e nos unimos por todos os cantos do Brasil. Nos conectamos e organizamos o 1º curso de segurança só para mulheres, ministrado em 2012, pela piloto e acrobata Marcia Finelli.

Primeiro curso de segurança só para mulheres, ministrado pela piloto e acrobata Márcia Finelli, em Santa Rita do Sapucaí – MG, em julho de 2012.

Plantamos a primeira semente do nosso encontro, que três anos depois tornaria o sonho em realidade.

Quantos encontros do Saia Para Voar ocorrem durante o ano e como tem sido?

A ideia inicial do encontro era realizar cada edição e confraternização, em uma região distinta no País. Uma por ano, pelo menos.

O 1º Saia Para Voar foi realizado em 2015, no Pico do Gavião, em Andradas-MG, e foi eternizado com um documentário especial, produzido pela Soul Films, para o CanalOFF (especial Dia das Mulheres do Canal Off, em 2016).

Parte da participação feminina e masculina do 1º Saia Para Voar. Outubro de 2015, em Andradas, Mg.

A 2ª edição do Saia Para Voar aconteceu em 2016, em São Pedro-SP. No ano seguinte, o Saia Para Voar ajustou o foco, organizando 3 cursos com renomados e voluntários pilotos, em Santa Rita do Sapucaí, que se dedicaram efetivamente ao desenvolvimento delas no esporte.

Parte das participantes do 2º Saia Para Voar, em São Pedro. Outubro de 2016.

Em abril de 2017 realizamos um curso de iniciação ao XC, para 10 pilotos, com o Robson (Asas da Mantiqueira). Em Julho de 2017 realizamos um XCompe Personal, para 12 pilotos, com o recordista mundial Samuel Nascimento. Em Setembro de 2017 realizamos um MiniSaia, com Guilherme Vacilotto – piloto e especialista em navegação e interpretação de instrumentos eletrônicos. Todos as ações realizadas em 2017 apoiaram efetivamente o desenvolvimento delas no esporte, uma das importantes missões e intenções do Saia Para Voar.

Para os anos seguintes, nosso plano é alternar entre encontros nacionais e internacionais. As ações nacionais seguem em 2019 focadas no desenvolvimento e cursos para elas, mas também aguardem ações e expedições internacionais.

Possui algum sonho no esporte a ser realizado ou conquistado? Ou alguma realização que considera ter sido importante?

A realização do Saia Para Voar foi, sem dúvida, um grande sonho coletivo, já concretizado no esporte. É algo que todo dia nos emociona, enobrece e fortalece, através de tantas histórias e conexões que o movimento segue concretizando e voando por aí.

Mas claro, a gente quer sempre mais. Nosso sonho agora com o movimento é ganhar asas, e levar o Saia Para Voar pelo mundo: em 2019 iniciaremos as ações internacionais. Queremos que o nosso movimento se conecte pelo mundo e o céu há de ser o limite!

Saia Para Voar em Alto Hospício, Iquique, Chile.

Quanto às realizações pessoais. Primeiro preciso tratar de voar de verdade! Vencer e superar meus desafios, limites e números. Já será uma importante realização. Depois, tenho sim alguns grandes desejos a cumprir: Fazer o tão desejado voo até o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Fazer um Hike and Fly, no Cerro Catedral, em Bariloche, na Argentina. Fazer um Hike and Fly até o cume do Vulcão Villarrica, em Pucón, no Chile. Se  conseguir esses feitos, já me sentirei grandemente realizada e felizarda!

Tem algum momento que considera mais especial que os demais?

Cada voo é sempre especial, com sua particularidade, desafio e conquista. Mas sem dúvida nenhuma, nada se compara à emoção do meu primeiro voo solo, momento que eu jamais vou esquecer! Tamanha emoção e sensação, só senti tal qual quando meu filho nasceu: uma explosão e êxtase de felicidade, ansiedade e superação. Nem sei descrever, mas foram os dois momentos mais emocionantes da minha vida.

Já voou em quantas rampas de voo? Dessas rampas tem alguma que você tem um carinho mais especial?

No começo da minha vida no esporte, tive oportunidade de conhecer diversas rampas, através dos eventos que organizava com a equipe GaroTeam. É fato que quem organiza quase nunca voa, devido a tantas tarefas, mas a gente sempre dava um jeito de tirar o pé do chão.

Parte do staff. Nos bastidores do Campeonato Sul Mineiro de 2009.

Nunca parei para fazer contas das rampas voadas, mas creio que devo ter voado em mais de 30 rampas diferentes no Brasil, e fora, em Iquique, Arica e Maitencillo, no Chile. Tenho um carinho especial pela rampa do meu quintal – Santa Rita do Sapucaí-MG, e também pela rampa de Poços de Caldas-MG, que foi onde ganhei asas e realizei meu tão esperado e comemorado primeiro voo solo.

O que você considera ser a maior dificuldade no voo?

A dificuldade no esporte é sempre pessoal, cada um tem a sua, conforme suas experiências e condicionamentos. A minha maior dificuldade é vencer os meus medos e limites, a cada voo, em especial ao meu medo de altura e ao meu incômodo quanto à sensação de montanha russa, que os pêndulos inevitavelmente geram. É fato que quanto mais alto se está em voo, mais seguro é, porém o meu inconsciente não está nem aí com essa teoria, quando é ele quem tenta dominar a prática da situação. Esse creio ser meu maior desafio: manter a calma, o foco, a atenção e a convicção na reação, especialmente quando a tensão se faz presente.

Sempre finalizamos a entrevista com uma dica do(a) entrevistado(a) para os praticantes do voo livre. Qual é a sua dica?

Para mim, o principal é sempre voar atrás da realização de seus sonhos, seja ele qual for.  Acredite que é possível e alcançarás o impossível. Se o seu sonho é voar, minha dica é que você esteja disposto a se dedicar a muito treino e estudo, além da prática constante no esporte. Como em tudo na vida, só a prática leva a perfeição.

É necessário muita atenção e dedicação para a prática segura de um esporte de risco, seja ele qual for. Voe muito, treine mais e divirta-se muuuuito mais.

Tenha muita cautela para com o seu ego! Não deixe nunca ele tentar comandar seus batoques ou decisões no esporte, ele pode (sem dó nem piedade), te colocar da pior forma no seu humilde lugar!

Não se esqueça, você não tem que provar nada para ninguém, além de você mesmo. Só você sabe quais são as suas aspirações e inspirações. E no fim, é isso que importa. O resto, é problema alheio e não te pertence.

Bons voos e para o alto e avante, positivamente, sempre!

Pri Saran.


Pri Saran, agradeço as inspirações compartilhadas, a boa vontade de fazer e acontecer a entrevista. O carinho e o apreço, que vem dedicando as mulheres aladas, ao longo da sua trajetória no esporte. As nossas conversas virtuais, que antecederam toda a entrevista, durante e pós, praticamente em cima do laço, mas que, “foi que foi, e que vai”, com toda a energia. Muitíssimo obrigada Alada!

Desejamos sucesso e vida longa para o Saia Para Voar. Que a cada dia continue unindo e agregando mais mulheres ao movimento, embelezando nossos ares.

Para saber mais da Pri Saran, acesse o instagram, face e também os links:

  • Sobre a vida de andarilha pela América do Sul: Voei Por Aí
  • Para se hospedar em Santa Rita do Sapucaí-MG: UaiFlyHostel

Para saber mais sobre o Saia Para Voar e o encontro, além de acessar as páginas das rede sociais, também acesse o link:

Saudações Aéreas Para Todas as Aladas deste mundão!

Nicolle Muraro & Grande Família Vento Norte Paraglider

Apoiando o Saia Para Voar