O Morro do Boi, em Caiobá, destaca-se como o único local para decolagens de parapente à beira-mar no Paraná. Não há outro ponto no continente ao longo das praias paranaenses que ofereça as condições ideais para o voo livre, exceção feita à Ilha do Mel.
No entanto, a atração por esse único ponto de voo de praia por aqui enfrenta alguns obstáculos. Cerca de 600 pilotos de parapente residem no estado, mas raramente vemos mais do que 20 deles voando por lá, salvo durante o movimentado verão, quando a procura naturalmente aumenta.
As razões para essa relativa falta de interesse são diversas.
Morro do Boi. Foto Rodrigo Fernandes
Desafios Técnicos na Decolagem:
A decolagem no Morro do Boi exige uma técnica apurada, frequentemente negligenciada por alguns pilotos que podem não manter seu treinamento solo em dia, e menos ainda o controle de solo mais apurado e diverso.
Acesso por Caminhada/Trilha Morro do Boi:
O acesso à rampa é feito por uma caminhada encantadora pela Mata Atlântica. No entanto, nem todos os pilotos estão dispostos a subir o morro em temperaturas elevadas com seus equipamentos de voo nas costas.
Busca por Novas Experiências
Muitos pilotos procuram experiências e paisagens diferentes em lugares mais distantes que o “quintal de casa’, especialmente no verão.
Comunidade Menos Ativa:
A falta de uma comunidade ativa de praticantes, como um Clube de Voo, na região também contribui para a falta de atração.
Nível de Experiência:
Para iniciantes, a decolagem é exigente, enquanto para os pilotos mais experientes, embora a decolagem seja exigente da mesma forma, o voo em si não o é. O espaço do lift é bem pequeno em termos de explorar horizontes.
Cansaço físico:
Nem todos os pilotos que frequentam o local são familiarizados com as técnicas do hik’n fly.
Subir pela trilha do Morro do Boi com o equipamento de voo, no alto verão, com dias de temperatura elevada é extenuante e a recuperação física pode levar até uma hora após a chegada na decolagem. Antes desse tempo existe o risco de não estar fisicamente e mentalmente ágil para enfrentar uma decolagem exigente.
Morro do Boi

Desafios Específicos no Morro do Boi:

Espaço Limitado para Decolagem:

A rampa natural, rodeada pela bela mata atlântica, acomoda apenas um parapente. O espaço é significativamente restrito. Movimentos imprecisos ou incorretos podem levar o parapente às árvores, que também dificultam o espaço para manobras corretivas, aliada a dificuldade de se mover no mato alto. Embora o Morro do Boi seja um ponto turístico do litoral, ele não conta com manutenção na área do cume, e portanto o mato normalmente esta alto.

Visão Restrita do Entorno:

O local em um “buraquinho” de árvores impede uma visão completa do entorno, tornando a leitura das condições climáticas limitada, imprecisa e muitas vezes equivocadas, se forem analisadas isoladamente pelo piloto. (sem os demais itens de uma análise pré voo, que consiste em todas as etapas antes de subir a rampa)

Bloqueio de Vento pela topografia:

A configuração de falésia bloqueia a incidência de vento na camada laminar, exigindo habilidades avançadas para lidar com a transição entre a ausência de vento e a exposição real ao vento durante a decolagem. O vento é zero no local da decolagem, e vento forte poucos metros acima, poucos, que basta inflar o parapente para que ele toque na camada de vento forte. Um vento de 20m/h é mais que suficiente para “estilingar” o piloto no momento da decolagem, que neste aspecto receberia uma limitação de voo para a categoria NIII. O piloto deve ser treinado e apto a lidar com essas condições em um espaço bastante restritivo pelas árvores, do contrário acaba nas árvores, ou twistado e arrastado para a Praia Mansa e prédios, ou seja, para o rotor.

Falso Vento Frontal

A topografia além de exigir domínio nesse tipo de relevo (falésia), ainda conta o falso vento de frente. O voo por lá só ocorre de Leste e Nordeste. Vento Norte e Sudeste já ocasiona o falso frontal, as birutas na rampa irão mostrar vento Leste e Nordeste. No Sudeste ainda haverá rotores da Ilha a frente.

Conselhos e orientações

 

Imagem criado por AI, Bing.
  • Realizar uma análise minuciosa das condições meteorológicas, utilizando sites de previsão. Antes de subir a rampa observar fatores como intensidade e direção do vento, temperatura e presença de nuvens, toda a avaliação da escala de Beaufort, jamais inflando o parapente na rampa, para ver ¨comeketa¨.
  • Avaliar constantemente se suas habilidades e equipamento estão dentro da margem de segurança.
  • Manter o treinamento de solo para evitar decolagens sem controle e sem intenção.
  • Ao chegar na decolagem, analisar a intensidade do vento na beira da falésia com o anemômetro inclinado 30º para baixo.
  • Evitar voar entre 17:00 e 19:00 horas. Neste horário geralmente o vento passa por transições do sistema de brisas. Gradativamente muda de direção e intensidade. Em dias de bom tempo o vento inicia SE, e ao longo do dia “caminha” para N, para então transitar do vento maral (que vem do mar) para vento Terral (que vem da terra). O sistema de brisas só não ocorre quando existe presenças de sistemas maiores e mais fortes que ele, como sistemas de frentes ou cumulos nimbus.
  • Quando o vento vira NW forma rotores dos prédios em toda praia dificultando muito a aproximação e pouso com segurança.
  • Ao realizar a aproximação e pouso na praia , fique muito atento em identificar pipas no céu e pessoas soltando pipas. O fio utilizado para pipas pode cortar as linhas do parapente mesmo sem cerol.
  • Nunca voe sozinho. Você pode precisar de ajuda em qualquer tipo de emergência, seja uma torção de tornozelo na trilha, picada de cobra, arborizada, a outras situações onde o tempo é o seu maior aliado para ser atendido de prontidão.
  • Haverão decolagens do Morro do Boi extremamente suaves e fluídas. Não tome elas como referência, ou régua para avaliar a sua habilidade ou subestimar os desafios do local. Mantenha a guarda alta, um dia esse mesmo Morro poderá exigir que você lide com situações avançadas como decolagem twistada.
  • Prepare-se para decolagens exigentes. Há diversos tipos de treinamento solo que preparam o piloto para dominar situações como decolagens em espaços limitados, treino de decolagem twistada em solo. Treine essas habilidades não até acertar, mas sim até não errar. Não negligencie esses treinos, e caso se recuse a se preparar da devida forma, não se arrisque naquilo que nunca se preparou para enfrentar.
  • Lembre: Não tem caminho fácil, não tem atalho, o que tem é dedicação, estudo, maturidade e consciência dos seus limites, dos limites do seu equipamento e dos limites que as condições climáticas impõem.
  • Estude sempre. Não deixe de ler, de estudar, de debater e de se aprofundar. Com o tempo muito da teoria se perde e são esquecidas, é importante que mantenha contato com ela para aprimorar os seus voos. Busque estar com a escola sempre que possível. É um ambiente que sempre se esta aprendendo algo. Usufrua do espaço da escola para ler os artigos, livros e revistas que deixamos disponíveis para leitura local. O espaço é gostoso e não falta ideias e debates.

Voar no Morro do Boi, embora desafiador, pode proporcionar experiências incríveis. Entender e respeitar os desafios locais é fundamental para garantir não apenas uma decolagem segura, mas também um voo inesquecível.

Nós temos diversos lindos momentos vividos no Morro do Boi, como por exemplo os Jogos de Aventura e Natureza, fotos desse momento podem ser relembrados aqui.
Confira: Dicas e cuidados para realizar as atividades ao ar livre no calor extenuante.
Morro do Boi, Caioba.

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