Danuza é uma das mulheres corajosas que voam livre e são apaixonadas por esportes na natureza, daquelas que nasceram com asas e rodinhas nos pés. Além de voar de parapente, praticar paraquedismo, esqui, mergulho e viajar de moto, é mãe. Tem um casal de filhos – Arthur de 3 anos e Lis de dois meses – com o marido e piloto de parapente Daverson.

Trabalha como coordenadora de Trade Markting, em uma empresa líder do varejo calçadista, e nos finais de semana quando não está praticando esportes, registra belíssimas imagens de gestantes, bebês e produtos para catálogos. A fotografia começou como um hobby e acabou que o interesse levou à graduação em fotografia, sendo atualmente além de uma grande paixão, um plano B.

Perfil do Facebook da Danuza é: https://www.facebook.com/dan.dav.7

Agradecemos a Danuza por poder compartilhar um pouquinho de sua história em nosso site! Confira a entrevista abaixo!

Vento Norte: Alguma vez, até mesmo quando criança, já imaginou que voaria? Voa desde que ano?

Danuza: Desde 1998, são 18 anos de voo. Marquei até o voo número 400 e hoje não tenho ideia de quantos voos e quantas horas voadas durante esses anos todos. (estou velhinha. rs).

Acho que o voo faz parte do imaginário de todos. Todos sonham em voar, mas poucos tem coragem ou estão dispostos a sair da zona de conforto, afinal na terra e nas raízes moram as certezas que temos.

Quando pequena sonhava em voar, pensava em ser aeromoça e que deveria ser o máximo saltar de paraquedas. Amava os filmes de ação onde via mulheres fazendo esportes onde a dominância masculina imperava.

De certa maneira, comecei a voar ainda criança, pois na época tinha 15 anos de idade, minha mãe me acompanhou durante todas as minhas aulas práticas até ganhar confiança que eu voaria e não faria nenhuma besteira que pudesse me machucar, tive em minha Mãe uma grande incentivadora.

Vento Norte: Em que momento da sua vida decidiu praticar o voo livre?

Danuza: Eu fazia escalada com um grupo de amigos, isso em meados de 97. Dois desses amigos começaram a voar, eu achei aquilo o máximo, mesmo não tendo idade e condições financeiras para voar.
Na época eu trabalhava como menor aprendiz no grupo Ferramentas Gerais, minha mãe era costureira em uma indústria, a falta de recursos financeiros poderia arruinar meu sonho de voar, mas … “Nada é pesado demais para quem tem asas”….

Corri atrás de um patrocínio para a vela* e para a sellete*, montei um projeto com desenhos a mão, pois malemal existia internet naquela época, desenhei um paraca*, uma sellete*, desenhei o logo do patrocinador, datilografei a proposta e enviei via FAX para uma indústria renomada de botas para vôo, a Snake. Para minha surpresa a Snake me chamou para conversar e fizemos uma baita negociação com a Sol Paragliders, pagamos 80% do valor do equipo* com permute em botas de vôo e o restante paguei em suavíssimas parcelas que meu salário de menor aprendiz comportava, na época o dólar era 1 pra 1. Sou eternamente grata a Snake e a Sol (Ary Pradi) por essa oportunidade, sem esse ponta pé inicial eu não estaria voando até hoje.

Sellete: cadeira que o piloto se conecta ao parapente. Paraca: parapente, paraglider, asa, velame. Equipo: equipamento de voo.

Vento Norte: Qual é a emoção envolvida em ser piloto de parapente? Como você descreveria ser piloto ou o que o voo significa em sua vida?

Danuza: O que posso dizer desse maravilhoso esporte? Meu amor, meus filhos, meus melhores amigos, literalmente “caem” do céu. O voo rege muitas coisas na minha vida, foi onde encontrei segurança e força de vontade para correr atrás de meus sonhos, foi através dele que conheci lugares maravilhosos, pessoas maravilhosas, o amor da minha vida e através dele vieram meus filhos. Filhos do vento, do amor e da liberdade. Vôo = Vida!

Daverson, Dan e Tutu.

Vento Norte: Pode considerar que o voo livre mudou sua maneira de encarar algumas situações, sejam elas profissionais, espirituais, sociais e outros?

Danuza: O voo te ensina muitas coisas, dentro delas o quão pequeno você é dentro de uma imensidão que é o mundo lá embaixo, ele te cobra a sensação de vivo combate, de estar presente, sangue correndo nas veias, de ir para onde você olha, ter um racicíonio rápido para sair de determinadas situações.

Profissionalmente, acredito que praticantes de esportes ditos de risco, tem uma tendência natural a serem mais ousados e sangue frios, a serem líderes, a assumir mais riscos, pois o medo, fator determinante que congela qualquer um, passa a ser um amigo e não mais um inimigo, pois ele tem a função de te manter alerta e vivo o tempo todo.

Espiritualmente, acredito que o céu é o terreno neutro, onde deixo minhas orações e meus agradecimentos, também um terreno de perdão que lembro com carinho dos meus amores e até dos meus desafetos, quando você está lá em cima nada pode te tocar e tirar a sua paz, acho que por isso o vôo é algo tão viciante, é um espaço onde você pode ser você mesmo sem ter que dar satisfações.

Na minha vida pessoal, o voo é tudo, minha família, minha casa, meu marido, meus filhos, tudo é fruto do vôo, optamos por morar em Atibaia pelo vôo, moramos anexo a rampa, onde da janela da cozinha entre uma louça e outra podemos decidir se a condição está boa ou não para voar.

Vento Norte: Possui algum sonho no esporte a ser realizado ou conquistado? Ou alguma realização que considera ter sido importante?

Danuza: Vários, voar na neve foi um deles. Sonhei durante anos em voar na neve, até que consegui decolar do Cerro Otto em Bariloche. Nada é mais limpo, branco e imaculado do que o visual e as cenas que guardo na minha memória. Foi um vôo curto e até certo ponto perigoso. Não sei se hoje eu faria novamente, mas valeu cada segundo daquele ar gelado e rarefeito.

Peripécias de Dan na neve.

Vento Norte: Tem algum momento que considera mais especial que os demais?

Danuza: Semana passada retornei ao vôo depois do nascimento da Lis. A Lis está com dois meses agora, estava doente de vontade de voar, e na última semana voltei para o céu, chorei de emoção e alegria pois devolvi ao meu coração as asas e a liberdade!

Tutu e Liz

Vento Norte: Já voou em quantas rampas de voo? Dessas rampas tem alguma que você tem um carinho mais especial?

Danuza: Contei meio por cima deu 52, mas acredito que seja mais. O lugar mais sensacional de todos não é bem uma rampa, é uma duna baixa que você decola do chão, chamada Palo Buque. A rampa fica no norte do Chile no Deserto do Atacama. Você decola literalmente do chão, encosta na duna e estampa*. Para mim não existe lugar mais mágico no mundo. Você voa por horas, horas e horas, brinca de controlar o parapente a tarde toda até o por do sol. Para quem não conhece vale muito a pena conhecer.

Estampa: ganhar altura superior ao local que decolou.

Danuza voando pelo deserto do Atacama.

Vento Norte: O que você considera ser a maior dificuldade no voo?

Danuza: O vôo é algo sensacional, mas ele é bem tirano também, tira de você muito tempo produtivo às vezes. Como toda grande paixão faz você deixar muitas coisas de lado, casa, família e trabalho.
Hoje a maior dificuldade está sendo conciliar a vida pessoal, “ser mãe” com a vontade louca de voar, estou conseguindo graças a Deus ao Daverson, minha Mãe e minha Tia que me ajudam MUITO. O Tutu nosso filho mais velho já vai para a rampa com a gente desde pequeno, é um parceirasso, já tem seu paraquinha de brinquedo e muitas aventuras no currículo com todos os seus 03 anos de idade.

Tentamos conciliar tudo e fazer da vida “Um brinquedo onde todo mundo brinca”. Optamos por viagens e passeios onde possamos incluir as crianças em nossas aventuras. O Tutu já foi até a base do Aconcágua com 01 ano de idade, já nadou com Tartarugas na Isla de Pascua e tem algumas horas de caminhadas por trilhas e montanhas.

Quando optamos por ter nossos filhos, decidimos que iríamos tocar nossa vida normalmente, com o vôo, com nossas aventuras e que adaptaríamos eles a nossa realidade respeitando o limite de segurança de cada um.

Vemos muitos casais e muitas famílias se desestruturarem após o nascimento dos filhos, mulheres ficando em casa e se anulando, e definitivamente não queríamos isso para nós, as crianças vieram para somar, dão uma trabalheira danada, mas vale cada segundo vivido ao lado deles. Queremos voar a vida inteira, de preferência juntos!

Na foto tutu em suas aventuras. Com seu mini parapente (paraquinho) e pelo Aconcágua.

Vento Norte: Você sente algum medo e como lida com ele?

Danuza: Claro! O medo é aquilo que nos mantém vivos. Hoje estou numa fase mais calma do vôo, fiz muita arte já, graças a Deus nada me custou caro, mas tenho plena consciência que inúmeras vezes tive mais sorte que juízo. Com a maturidade você analisa com mais frieza os riscos e é uma conta matemática simples: em uma condição instável eu analiso quais são os prós e quais são os contras. Se tem mais contras do que prós é simples! Eu não decolo! O MELHOR vôo sempre será o próximo.

Vento Norte: Já passou por algum incidente ou acidente, se sim o que houve e qual foi a provável causa?

Danuza: Passei por vários incidentes, nenhum grave, todos 100% por imprudência ou porque eu havia decolado numa condição onde definitivamente eu não tinha técnica para dominar. A última (foram várias), fui pousar em uma etapa de um campeonato em Goval (Governador Valadares) e no pouso não vi um fio de luz atravessando e para não bater no fio estolei* alto e despenquei de costas. Lembro da vela caindo nas costas e de meus joelhos subindo, depois apaguei. Apaguei por stress mesmo, medo, congelei, acordei a caminho do hospital, me deram um remédio venal para dor, acordei ainda meio grogue com a Telminha do meu lado. Não aconteceu nada de mais, não quebrou nem trincou nada, graças a Deus. Depois desse episódio, comecei a ficar MEGA adrenada para voar, foram ANOS decolando no final da tarde morrendo de medo. Tinha medo de tudo: de térmica, de vento forte, de vento fraco. Fui muito teimosa em continuar voando, pensei em parar incontáveis vezes, decolava e pedia a Deus pra pousar, mas logo no outro final de semana decolava de novo.

*Estolar: comando efetuado para desmontar a aerodinâmica do parapente para pousar. Procedimento realizado no máximo com dois metros de altura.

Danuza no deserto do Atacama.

Fiz alguns SIVs (Curso de Simulação de Incidentes em Vôo), até chegar um momento que vôo após vôo, devagarzinho e no meu tempo, recuperei a confiança em voar. Acredito que a decisão mais acertada foi: Regredir para evoluir. Voei minha vida toda de DHV 2 e após 10 anos de vôo comprei uma vela DHV 1-2, bingo! Decisão acertada, pois comecei a voar mais segura, no meu timing e com um equipamento seguro e que de verdade, me levava exatamente onde o DHV 2 me levava. Mais lento, porém com muito mais segurança. Hoje voo numa vela classe EN B equivalente uma vela DHV 1.2, provavelmente voarei minha vida toda nessa classe de equipamento, nela encontrei o prazer e a tranquilidade que precisava para o meu vôo.

Danuza retornando ao voo após o nascimento da Liz. Pouso de Atibaia.

Vento Norte: Deixaria alguma orientação para pilotos que não reconhecem os perigos ou limitações pessoais do voo afim de aumentar a segurança em voo?

Danuza: Acho que a primeira delas: Não entre na onda do efeito grupo. Não é porque piloto X decolou que você deve decolar, talvez ele tenha mais técnica que você para determinadas condições.

Aprenda, estude, seja curioso, leia. Diferente da época que começamos a voar que malemal tinha internet e dependíamos de boas almas trazerem revistas gringas e traduzirem artigos, hoje você encontra muito conteúdo bom de voo na internet. E ninguém melhor que o seu instrutor para esclarecer as suas dúvidas.
Quanto mais conhecimento técnico você tiver mais “sorte” você terá no seu vôo, acredite!

Vento Norte: Que dica você daria para aqueles que estão começando no voo livre ou que pretendem iniciar no esporte?

Danuza: Primeiro, procure uma boa escola! Em Curitiba (A Vento Norte é CLARO) rsrsrsrs.
Todo mundo tem um limite, não force a barra. As falhas e os acidentes acontecem 99,9% por imprudência. O parapente não é perigoso, os pilotos são perigosos, pense que o paraca na mochila não oferece risco algum.

Vento Norte: Se quiser deixar um depoimento para a Vento Norte, pilotos e alunos sinta-se à vontade!

Danuza: Conheço o Márcio desde que comecei a voar. Acho que o Márcio foi da segunda turma e eu fui da terceira ou quarta turma, da escola do Max. Começamos a voar quase que na mesma época, então vivenciamos muito do vôo e da evolução do vôo em nosso estado. Hoje vejo na Vento Norte, uma família linda, que agrega muitos “novos filhos” a essa família, sempre com muito respeito, qualidade de ensino e know how, coisas que só se conquistam com o tempo e muito trabalho. Fiquei muito feliz em saber que temos muitas meninas voando no Paraná. O Paraná sempre foi referência de mulherada voadora.

 

Parabéns Ni & Márcio, vida longa a Vento Norte. Apareçam por aqui! Tem casa, comida, resgate e pouso (pra pousar e pra dormir) rsrsrsrs.
Beijos com carinho e saudades!

Dan!

Fotos arquivo pessoal: Daverson Marin/Ajota/Guilherme Quentel/Mauro Tamburi