SOBRE TERRA RICA

Terra Rica é uma cidade do norte do Paraná e conhecida em nosso esporte por ser o local com potencial para os voos de cross country, inclusive o recorde paranaense de distância percorrida em parapente é de lá e a marca é de 270km.
A cidade já foi chamada de Estrela do Norte. Serpenteada pelo Rio Paranapanena, que significa rio-azarado, que não é azarado não, pois é um dos rios mais importantes que nasce no interior de São Paulo e tão importante quanto é o menos poluído do estado paulistano, e que desagua no Rio Paraná no ponto tríplice entre Paraná, Mato Grosso do Sul e Sampa. (Admito que fiquei com vontade de arranjar um caiaque e atravessar o rio só para dizer que pisei no Mato Grosso do Sul, mas continuando..)
Foto do Felipe Krausse
Pouso na beira do Rio e o primeiro cross de FELLIPE KRAUSE DOS SANTOS, que também foi o primeiro a fazer o goal.
A região é super plana e possui vastos campos do agronegócio e uma única elevação na paisagem, o Morro dos Três Irmãos, carinhosamente chamado de Três Morrinhos. Por lá vimos vários pássaros diferentes, inclusive um casal de araras vermelha e azul anunciando que a primavera está chegando e por consequência a temporada dos voos de grandes distâncias para os humanos esquisitos com asas de pano. Um cenário que me lembrou uma aula que assisti com o Leandro Karnal e a Gabriela Prioli, que vou adaptar ao contexto: “Em um ambiente que temos ipês brancos floridos, mangueiras repletas de frutas, pássaros coloridos voando, esquilos nas árvores, pôr do sol no Rio Paraná, pessoas felizes e sintonizadas, vamos e venhamos, é moleza ser humanista, ” e confessamos que nos sentimos assim nesses ensolarados dias em que promovemos – com parcerias incríveis – a Jornada Técnica de 7 de setembro.
A ORGANIZAÇÃO DA JORNADA TÉCNICA VENTO NORTE 2021
Tudo começou no teatro da Casa da Cultura. A Prefeitura disponibilizou o espaço para realizarmos as palestras 3 dias pelas manhãs, além de um ônibus de resgate no raio estabelecido de 50km da decolagem. Um luxo para os crosseiros não precisarem pedir carona para voltar ao “Q.G”.

 

Na cidade foi distribuído pela própria natureza 2 sóis para cada pessoa, na rampa 5 sóis para cada. Uma fornalha para os meros curitibanos vestidos para o sucesso; lycra, casaco, luvas, capacetes e por aí vai. Toda essa rouparada em um calor sufocante não é questão de elegância e estilo, é porque a cada 100 metros que subimos no voo a temperatura abaixa um grau, e podemos subir até o teto estabelecido e permitido que pode ultrapassar os 2.000 metros em algumas regiões.
Enquanto esperávamos a condição abrigados nas sombras das árvores vimos a miúda cuíca, lebres, lagartos, calangos, sol e mais sol, e obviamente, urubus que deram a largada para as decolagens maravilhosas – resultado de muito treino solo – em uma condição forte, consequência da grande seca que castiga as terras, a paisagem por quilômetros, quilômetros e quilômetros são campos e campos de plantação ou pasto, que atravessam cidades e fronteiras, e nos poucos e raros remanescentes florestais que vimos pela estrada, alguns estavam com focos de incêndios. Mas papo muito sério para um início de semana. Seguimos adiante com nosso feriadão.

 

No voo os tutores se dedicaram para que os participantes chegassem o mais perto possível de suas metas pessoais do dia. Primeiros voos, primeiros lifts, primeiras giradas de térmicas, primeiras permanências em voo através de térmicas, primeiros cross, primeiros goals, primeira rampa de voo fora da zona de conforto e muitos, muitos sorrisos distribuídos de orelha a orelha. Seria muito longo escrever as conquistas de 53 participantes, cada qual com uma experiência singular, entretanto deixamos o convite para quem gosta de escrever mandar para nós publicarmos a experiência e o olhar neste singelo blog.
Foto de Rafael Wojcik em Terra Rica.
Ah, tivemos alguns preguinhos de pilotos que possuíam a meta de realizar nem que fosse um pequenino cross. Se estávamos no paraíso das térmicas paranaenses? – Sim, estávamos. Mas não sei se sabe ou não, todo paraíso tem serpente. Não sou eu que estou dizendo isso, é um fato bíblico. Encontrar uma maladita descendente máster no caminho ou simplesmente ter que pousar porque a condição zerou (as térmicas “morreram”) acontece com todo piloto, novatos e experientes, tem até um artigo por aqui sobre a “merreca”, se você é um dos merrecados, leia.
O importante do voo livre, falando da parte técnica, é treinar, observar, estudar, aprender, refletir, trocar ideias, contar sobre o seu voo, comemorar as glórias da vitória e superar os dramas da merrecada, ser o tal observador que também mede a profundidade da sua própria natureza, e usar tudo isso como impulso para os próximos voos, com desejo por distância, por música, por vida, por superação com otimismo sempre.
Foto Samuel Quines Thomas
Vou dar um giro no velho globo e ir para um outro lado, para mostrar todas as faces do esporte. O arrastão da nossa nora amada Sibelly e da Kelly no chão. A Kelly levou um arrastão no chão e machucou o joelho no segundo dia, mas não se abalou, embora não tenha voado nos demais dias para poupar o joelho, afinal de contas a gente quer ela fortona na corrida, pedal e natação. Guerreira como é, foi para a rampa os outros 2 dias com a estratégia de observar decolagens, voos e condições, e de quebra motivar a galera nas decolagens. A Sibelly fez voos lindos, inclusive o primeiro cross, mas no último após horas voando térmica, já no chão levou um arrastão que acabou ocasionando uma lesão e será necessário repouso por um tempo. Paciência e caldo de galinha na convalescença, como diria minha avó, para que volte para o ar espalhando o bom humor, sorrisos e alegria que marcam a sua personalidade. O fator relevo foi a grande serpente nos dois casos. Os pastos de Terra Rica possuem algumas divisórias de terra, como ondas grandinhas no solo, chamadas de curva de nível e se não estivessem no caminho das duas, tudo isso não seria nada mais que um arrastão a ser controlado. Meninas, vocês mandam muito bem, são fortes e isso irá ajudar um montão na recuperação.
Duas dicas para o leitor:
  • Primeiro, manter distância de ondas no solo, valas, cupinzeiros, “trincheiras” e etc, são armadilhas terríveis, especialmente no treinamento solo e pouso.
  • Segundo ponto; estávamos conversando com a Kelly e com a Sibelly, que são muito ativas e queremos lembrar que os músculos protegem, e muito, os ossos e as cartilagens. Praticamos um esporte de natureza e que possui riscos que não estão apenas no ato de voar, mas também no chão, nas trilhas para o morro, no barranquinho e etc.  Quanto mais fortalecida é a musculatura menor é o dano em um tombo e mais rápida é a recuperação, e claro, te dará mais qualidade de vida na velhice. Até eu que detesto musculação fui convencida por uma médica a começar. Antes tarde do que nunca, não é? Já fui 3 vezes em 9 dias. rsrs (só isso porque veio o feriadão logo que comecei).
  • A título de incentivo achei esse pequeno artigo: “Fortalecer os músculos é importante para proteger os ossos e as articulações”, que pode expandir a sua ideia sobre musculação.
Mas adiante no resumo. O saldo da Jornada Técnica foi extremamente positivo. Arrasaram todos, não apenas nos voos. A AVLPN, a Prefeitura, os pilotos, os tutores, os monitores, os alunos(as), todos ajudaram, apoiaram, motivaram, observaram, aprenderam com atenção, com cuidado, ofereceram caronas no trecho rampa e pé de morro, filmaram as decolagens dos amigos, fizeram novas amizades, entre tantos outros pequenos detalhes que fizeram toda a diferença no todo. Não sei se vocês sabem, mas especialistas afirmam que as melhores sociedades são aquelas que aprendem em conjunto, e saboreamos o dito na prática, cada um de nós. Não é verdade?
Nós somos aquilo que ensinamos. Foi especial demais e já estamos com saudades dos momentos compartilhados.
Valeu a serenidade nos olhos, os risonhos votos de confiança, as “mãos e mentes” unidas na parceria de decolagens, voos e pousos, o olhar atento e genuíno da torcida para que tudo fosse perfeito com cada um, a vontade subjetiva de se fazer o melhor, as risadas altas, as conversas sem pé nem cabeça e outras tão profundas e sérias. Valeu pelos voos em terra e em céu. Que venha a próxima logo!
Agradecimentos especiais:
Prefeitura de Terra Rica e a Divisão de Turismo que apoiou o evento disponibilizando o espaço da Casa da Cultura e o ônibus de resgate, com a visão de alavancar o turismo esportivo, rural e cultural.
Associação de Voadores do Norte do Paraná que vestiram a camisa da Jornada Técnica Vento Norte e nos ajudaram enormemente na organização e aplicação de cada detalhe, sendo os melhores anfitriões que já nos receberam.
Aos tutores que buscaram auxiliar cada piloto e aluno em suas metas.
Aos pilotos e alunos que depositaram a confiança em toda essa equipe empenhadíssima em fazer o melhor por cada um e vocês retribuírem tão carinhosamente esse cuidado.
Terminamos esse artigo com a edição do Reginaldo Angelo de Oliveira, mais conhecido como Régi e um dos organizadores da Jornada.

Informações sobre a rampa de Terra Rica, acesse este artigo do site Guia 4 Ventos.