Kelly passou correndo por mim e uma amiga em uma trilha da Ilha do Mel, com absoluto foco em sua corrida, sem perder a simpatia sorriu com o olhar para nós, como um Bom Dia Meninas, e sumiu, virou um pontinho distante no Morro do Sabão. Minha amiga já concluiu; “que simpatia desta atleta! Um dia eu corro, pedalo, nado, subo montanhas, surfo, faço yoga e especialmente sorrio para todos como ela.”
Foi a primeira vez que vimos a Kelly, e a impressão obviamente foi das melhores, mal imaginaríamos que teríamos a sorte de vê-la e conversar tantas outras vezes, pois ingressaria em nossa escola.
Kelly treino solo
Kelly no treino de controle do equipamento em solo, na Ilha do Mel.
A Kelly tem 34 anos, é curitibana, arquiteta, empreendedora, professora, gestora, triatleta e nossa aluna (chamamos de Vento Nortenhas). Sua mãe e seu pai se separaram quando ela e seu irmão, 5 anos mais velho, eram crianças. A mãe se virou nos trinta para atender os desejos dos filhos, e educa-los, pois, seu pai estava vivendo no Mato Grosso do Sul. A pensão era integralmente administrada pelos filhos e Kelly acredita que isto foi muito benéfico para a gestão financeira na fase em que eram adolescentes, aprenderam inclusive a poupar. Kelly casou, se divorciou, seu pai sofreu um câncer e neste período ela esteve ao seu lado em todas as consultas, tratamento, e hospital até os seus últimos momentos.
Incentivados pela mãe a praticarem esportes desde os 4 anos de idade, mais especificamente a natação, ambos tomaram gosto por atividades físicas. Academia, dança, luta e aulas de educação física, mesmo as teóricas eles gostavam. Na pré-adolescência, aos sábados, a mãe levava ao escotismo.
Primeira parte da prova de triatlhon do Xtreme Penha.
Kelly Montanhismo
Nascer do Sol no Monte da Crista, em Garuva, Santa Catarina.
Kelly, a sua mãe já sabia o que hoje é comprovado, escotismo desenvolve em crianças e adolescentes um senso de responsabilidade individual, coletiva e respeito pelo meio ambiente, e claro, o gosto pelas aventuras na natureza. O que você traz do escotismo para o montanhismo e o voo livre atualmente?
Muito da minha vida hoje foi influenciada pelo escotismo. Desenvolvi a independência e liderança, aprendi sobre respeito pela natureza e pratiquei a paciência de cumprir pequenas tarefas em busca de um reconhecimento maior. Na ficção “O Homem Mais Rico no Mundo”, de Rafael Vidac, ele compara as vitórias da vida com a subida em uma montanha, e concordo com ele! Temos que mirar o objetivo, e mesmo o trajeto parecendo difícil e longo, é só abaixar a cabeça, se concentrar no próximo passo, e trabalhar duro que se chega lá! Quem nunca olhou o cume do morro e se impressionou com a distância dele?
Nascer do sol no Morro dos Perdidos, em Tijucas do Sul.
Você me lembrou um sentimento que tenho sempre; estou no pé de uma montanha e olho o cume, imagino qual é a paisagem reservada, e quando estou lá em cima e olho o fundo do vale, eis que imagino quais são os segredos a serem explorados lá embaixo. Talvez por isso eu goste da música do Jorge Drexler: “Creo que he visto una luz al outro lado del río”. Chego a conclusão de que não há caminho pré-determinado, porque ele se faz ao caminhar, nos molda e nos ensina, chegar ao topo é um simbolismo da conquista da trajetória, porque o que realmente importa é o quanto absorvemos da sabedoria do caminho. Você tem isso também?
Muito! Uma frase que digo sempre: eu só sou quem eu sou por tudo que passei. Se algo tivesse sido diferente na minha vida, eu não teria conquistado tudo que conquistei. Comparo com o triatlhon. Minha conquista na prova não é a chegada, mas sim todos os meses de preparação dela! Isso é que me derruba lágrimas quando passo pelo portal!
kelly na chegada
Chegada na prova de triatlhon GPXtreme, na Penha. Kelly ficou em 4º lugar na categoria geral.
Luiz parabenizando a Kelly após a prova.
Durante um curso vocacional que apontava para a propaganda e publicidade e também para a arquitetura e urbanismo, é que Kelly descobriu a sua vocação e optou pela faculdade de arquitetura. Abriu seu próprio escritório logo após a sua formação, que permanece até hoje e foi um fator que impulsionou a desenvolver uma rotina com atividades físicas.
Comecei a “levar a sério” o esporte quando resolvi abrir meu próprio escritório, minha produtividade aumentava a noite, porém eu me sentia mal em acordar cada dia mais tarde para trabalhar. Arrumei um compromisso com o esporte que fazia eu acordar cedo, e assim chegava mais cedo no escritório. Logo em seguida, descobri que os treinos mais fortes me ajudavam a diminuir crises da “Síndrome Sincopal de Vasovagal” que eu sofri durante a juventude toda (é uma síndrome muito comum em mulheres jovens que em geral melhora com o passar do tempo. Nem sempre é diagnosticado, pois não acarreta nada grave fora um desmaio rápido e passageiro em lugares quentes a abafados).
Kelly é especialista em arquitetura em BIM (Building Information Modeling, um conjunto de softwares, tecnologias e processos que garantem uma maior qualidade no processo de execução e manutenção de edificações) leciona aulas sobre o tema e esta foto é de uma palestra que orientou no SEBRAE.
O esporte veio como uma forma de equilibrar a rotina e a busca por qualidade vida, hoje sendo uma atleta de alta performance, a busca por um equilíbrio deve ser ainda mais intensa na alimentação, descanso, treinos, leituras, trabalho e lazer. Você programa a sua semana detalhadamente para cumprir o “roteiro”?
Faço acompanhamento nutricional desde meus 19 anos (eu era gordinha) e de lá para cá, gosto de cuidar da minha alimentação. Programo meu celular para silenciar chamadas no horário que tenho que dormir para completar as horas de sono que acho adequado para minha rotina no momento. Apesar de ter o meu próprio escritório de arquitetura e poder “fazer o meu horário”, controlo as minhas 42 horas semanais de trabalho. Não costumo faltar treino, pois além de gostar muito da sensação física e psicológica do esporte, ele também dita o ritmo do dia em relação a isso: alimentação, saúde e trabalho.
Sou rígida com essa programação?  Não! Acho que o equilíbrio tem que acontecer inclusive na forma de se buscar o equilíbrio: tem dias que viajo e cuido menos da alimentação e quando saio com os amigos tenho que sacrificar o sono, e esta tudo bem. Temos que ser flexíveis, somos seres humanos orgânicos e mutantes.
Kelly no bodysurf em Ferrugem-SC
Esportes ensinam muito sobre auto responsabilidade, disciplina e superação. O que pode falar sobre isso.
Pouco tempo depois, fiz minha primeira competição de corrida, depois de aquatlhon (natação+corrida) e depois de triatlhon e delas, tirei algumas lições de vida e profissionais e até hoje faço analogias e tomo decisões a partir dessas experiências.
Apesar de eu já ter feito uma prova de corrida e ter ido bem, e estar nadando com frequência, minha primeira prova de aquatlhon foi um desastre: fui coagida por umas meninas no vestiário, entrei insegura na prova, e terminei tão cansada que lembro até hoje da cara de pena das pessoas me olhando no final da prova. Claro, fui para a casa bem chateada, mas depois de pensar e pensar e pensar, resolvi “voltar lá e fazer o negócio direito”! Pesquisei, conversei com meus treinadores da época, troquei meu estilo de treino e, é claro, depois fiz outro aquatlhon com muito mais confiança, garra e coragem e colhi o resultado disso. Quem nunca teve uma experiência profissional ruim? Daquelas de colocar o “rabinho no meio das pernas”, voltar a estudar mais, trabalhar mais, para então conseguir um resultado satisfatório?
Treino de corrida na pista de atletismo do Parque São José.
Pódio da prova de Triatlhon Insano Full Distance em Guaratuba em 2018, onde levou primeiro lugar na categoria.
Nesses anos de esporte, conheci muitas pessoas e suas histórias de superação, vitórias, fracassos e lesões. Isso fez com que eu sempre tivesse um perfil mais “conservador” de evolução esportiva. Acredito que é melhor dar um passo de cada vez, do que dar dois e ter que voltar três. Mas aconselho as pessoas, com calma e no seu tempo, a se prepararem para um desafio grande, uma prova que requer mais esforço que o habitual. Isso nos ensina muito sobre as várias facetas que a vida engloba: relacionamentos, saúde, equilíbrio financeiro.
Etapa de ciclismo da prova de Triatlhon Xtreme de Penha, 2019.
Em 2018 fiz uma prova de triatlhon um pouco maior que as de costume. Terminei ela muito bem e no dia seguinte tive um dia agitado de trabalho. As duas semanas seguintes depois da prova me deixaram muito preocupada: tive muita febre, deixei de trabalhar, fui diagnosticada com infecção urinária quando na realidade já era uma infecção no rim. Levei um susto e tomei uma lição, que foi reforçada com a leitura do livro “A semente da Vitória” de Nuno Cobra nas férias de 2018/19. Minha prova do ano seguinte, requereu muito mais disciplina com alimentação, sono, treinos, e equilíbrio da vida social, profissional e apoio da família. Acredito que faz parte da maturidade no esporte não buscar somente o pódio na linha de chegada da prova, mas sim as conquistas feitas em conjunto com a vida esportiva.
Etapa de ciclismo da prova de Triatlhon Xtreme de Penha 2019.
Quando começou a pensar no voo livre?
Meu namorado é apaixonado por aviação e desde que o conheci incentivo tudo que esta relacionado a isso. Ele terminou o curso e começaria a dar instrução de voo para acumular horas para o currículo logo no começo da Pandemia. A crise na aviação adiou um pouco alguns planos, mas o menino nunca tira os olhos do céu. Fomos ver o por do sol no Cume do Cal em um domingo de isolamento e ele ficou deslumbrado com as velas no céu. Em pouco tempo ele estava começando o curso de voo e eu estava ali do lado incentivando e apoiando. Assistia as aulas dele, ajudava e dobrar as velas e percebi que esse mundo não era tão distante do meu. O carinho do Marcio no convite a começar a assistir as aulas deu o empurrãozinho final para iniciar o curso!

 

Kelly e Luiz se apoiam de uma forma absolutamente genuína, que inspira admiração. Foto no cume do PP – Pico Paraná.
Você está no primeiro ano de voo livre, embora seja cedo para perguntar, estamos curiosos para saber se já possui algum desejo no esporte.
Gosto muito do clima social que os esportes têm, das amizades que conquistamos pela paixão em comum, e da ideia de conseguir interpretar e entender ainda mais natureza: o vento, as nuvens, os sinais que o próprio matinho dá para sabermos se é hora de inflar a vela ou não… Acho que ainda é cedo para eu saber qual o tipo de voo que mais vai me encantar, mas quero com esse esporte conhecer, conviver e respeitar ainda mais a natureza.  Quem sabe até me desafiar em alguma prova… porque não? A alguns anos atrás, se me falassem que eu seria uma triatleta hoje, eu acharia graça!
Kelly e Luiz em voo na Ilha do Mel.
Kelly no cume do Caratuva.
Kelly, para quem ainda não pratica nenhuma atividade física, entretanto gostaria de começar algo, o que você orienta?
A primeira coisa é experimentar. Não acredito que existe pessoa que não goste de atividade física, mas sim que ainda não encontrou aquilo que gosta. Existe esporte para todas as fases da nossa vida e gosto. Esportes que trabalham mais explosão, força, outros mais a habilidade manual, outros mais reflexos, ou instintos, e a maior parte das modalidades oferecem aula experimental que permite experimentar e encontrar algo que lhe toca.
Cachoeira no Caminho do Itupava.
O segundo ponto é a pessoa organizar o esporte na rotina, se programar para ter aquilo como um compromisso com ela mesma. Entender que ela é a pessoa mais importante, que sua saúde é mais importante, algo que não se deixa para amanhã. Se surgir um compromisso de trabalho ou com os amigos no mesmo horário que a atividade física, dizer não, nem precisa dizer a razão, apenas sugerir outro horário, outro dia. O que vejo é pessoas comprometendo-se com outro, e se deixando para segundo ou até terceiro plano. É organizar na agenda e cumprir com aquele compromisso que ela tem com ela mesma.
Kelly e sua versatilidade, conhecendo a canoa havaiana em Paranaguá.
A terceira orientação é; encontrou o que gosta e esta praticando, busque um profissional, uma equipe que ajude a evoluir, pegar gosto e fazer as coisas direito e melhor. Eu já treinei muitas vezes sozinha, achava prático por questão de horário, questão econômica, mas acho importante se programar para ter ajuda e orientação, assessoria, assim evolui, evita lesões e entende o porquê das coisas, além de engajar e desenvolver as habilidades de modo constante.
Etapa de Ciclismo da prova de Triatlhon Insano Full Distance em Guaratuba, 2018.
Durante muito tempo tive receio de mostrar para as pessoas a Kelly atleta e a Kelly que gosta de passar o final de semana no morro e na praia. Achei que julgariam o porquê eu “gasto” tanto tempo com isso. Foi conversando com uma pessoa aqui, aconselhando outra ali e apoiando outra acolá que decidi expor esse meu lado. Entendi que tem muito mais gente que é estimulada pela vida leve e saudável, do que gente que critica isso. De lá para cá, abri minhas redes sociais e passei a participar de grupos de WhatsApp (inclusive profissionais) de incentivo á qualidade de vida: alimentação adequada, atividades físicas, meditação, encontros sociais e leituras. A própria “responsabilidade” de postar meus cuidados comigo mesma, me incentivam a me cuidar cada vez mais! E seguimos assim… um ajudando o outro!
Kelly, para finalizar, quais são seus favoritos para a triologia discos, filmes e livros que inspiram dentro da temática que conversamos agora?
A Semente da Vitória, Nuno Cobra, livro que fala sobre equilíbrio da vida, importância da atividade física, alimentação saudável, a reconquista do corpo e o aprimoramento mental.
O Homem Mais Rico do Mundo, Rafael Vidac, uma ficção e fala sobre riquezas que não são as materiais, a riqueza da saúde, dos relacionamentos, um livro para refletir.
10% Mais Feliz, Dan Harris, reflexão sobre a meditação, que não necessariamente esta atribuída a religião. Meditação uma maneira eficaz de acalmar seus pensamentos, equilibrar suas emoções e se tornar uma pessoa melhor – sem perder a energia para lutar por aquilo que deseja.
Antifrágil, Nassim Nicholas Taleb, coisas que se beneficiam com caos, debate como ficamos fortes nas partes difíceis da vida.
Alegria, Osho, felicidade que vem de dentro, fala do percurso que inclusive mencionamos aqui.
Música:

Filme: 100 metros, do diretor Marcel Barrena. Um homem diagnosticado com esclerose múltipla questiona as limitações do seu corpo e, com a ajuda do sogro, treina para uma prova de Ironman.

Conecte-se com a Kelly

  • Instagram: @kellytrnd
  • Para conhecer a empresa de arquitetura da Kelly: www.trindadearquitetura.com.br

Kelly, muitíssimo obrigada pela conversa, sempre leve, honesta, transparente e inspiradora. Que venham muitas e muitas outras.

Nicolle Muraro

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Por falar em mulheres no comando, você conhece os ODS?

Os ODS são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma coleção de 17 metas globais, estabelecidas pelas Nações Unidas para organizar a agenda 2030.

Cada meta global é ampla e interdependente, com uma lista de sub-metas a serem alcançadas, desde desenvolvimento social, econômico, educação, pobreza, fome, saúde, saneamento, energia, meio ambiente e justiça social. Metas ambiciosas, entretanto, se todos usarem seu poder transformador poderemos ter mais polinizadores para a mudança que queremos ver no mundo. E nós, como escola e habitantes deste planeta lindo e repleto de desafios queremos estar no time que faz parte da solução e aproveitaremos este artigo para divulgar o Quinto ODS – Igualdade de Gênero, pois é queridos leitores, em todos os nossos artigos somos intencionais, queremos provocar a mudança para um mundo melhor.

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas

O ODS número 5 tem como objetivo geral: Alcançar igualdade de gênero e empoderar as mulheres e meninas.

Não no sentido de dar poder a alguém, pois todos nós já nascemos com o poder, trata de garantir que mulheres exerçam o seu direito de usar o seu poder.

Os objetivos específicos são:

5.1 Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte.

5.2 Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos.

5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas.

5.4 Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais.

5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.

5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão.

5.a Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais.

5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres.

5.c Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.

Confira os detalhes do ODS -5 aqui.