O homem, quando supre suas necessidades básicas (água, comida, uma casa, etc.) passa a procurar algo mais. Algo que dê sentido a sua vida; algo que lhe dê prazer.

O voo livre é um dos esportes que mais retribui seu praticante com prazer. Quem voa sempre tem várias lembranças de momentos inesquecíveis da sua história como piloto. Eu lembro da primeira vez que tirei o pé do chão. Estava mais uma vez correndo com um bacalhau amarelo na escolinha. Finalmente tinha conseguido colocar aquele parapente arisco na cabeça. Eu estava correndo e, de repente, ele me tirou do chão. Não durou mais que 3 segundos, mas guardo este momento na minha memória até hoje.

É interessante como sempre sentimos prazer no voo, sejam eles pequenos ou grandes. Existem situações em que todos sentem prazer. Uma grande termal é um prazer, achar uma térmica a 20 metros do chão é um prazer, chegar na base de uma nuvem é um prazer também. Em outros casos cada um tem seu prazer particular. Eu adoro estar subindo a montanha e olhar para fora do carro, vendo as coisas ficando pequeninas lá embaixo. Adoro o vento levemente frio da decolagem e a brisa de frente.

E os cheiros? Para a maioria das pessoas, cheiro de protetor solar lembra praia. Eu lembro de uma rampa de voo livre. E o cheiro da selete e da mochila? Eu já sentia isto no paraquedismo. É um cheiro indescritível, sem igual. Ele me lembra muitos momentos bons que já tive voando.

E no voo livre o prazer é compartilhado entre os pilotos. É muito legal ver alguém subindo em uma térmica ou contando um voo que fez. Hoje mesmo fomos voar, mas acabou desabando uma chuva torrencial. No bar do pouso estávamos relembrando um ótimo voo que fizemos no Espírito Santo, em Ubá. Um dos locais mais lindos que já voei. Um vale que lembra os vales europeus, só que em miniatura. Aquela conversa me fez voltar naquele dia, sentir o prazer de pegar um salão de 5, quando eu estava quase pousando e envaretar todo mundo. Neste dia pousei depois de Cachoeiro do Itapemirim, a trinta quilômetros da decolagem, e me senti realizado porque o voo foi muito bom e batalhado.

Nada como o sentimento do dever cumprido e o sorriso de felicidade estampado na cara do voador!

Extraído da página 19 do livro Parapente Brasil.

Glossário: Bacalhau: parapente velho e poroso./ Estampar: voar alto. / Envaretar: subir rápido ultrapassando a altura dos demais colegas de voo. / Salão: térmica grande