Quem na face da terra imaginou algo como o ano de 2020?
A palavra sem precedentes repete-se inesgotavelmente por todos os cantos, e a nova normalidade adentra em todas as casas. Crianças imploram por novos ares, respirar ar puro, liberdade, quem dirá nós, os grandões, cheios de preocupações, stress, ansiedades, incertezas, medos, compromissos, desencontros, cansaços, batalhas perdidas ou vencidas, intensificadas em desejos, sonhos e anseios adiados ou não.
Em “fúria” centenas de mulheres, homens, crianças, jovens e seus pets buscaram e buscam as “planícies’. Admitam! Todos clamaram fugir para as colinas e dar um time, frear o turbilhão mental, desconectar, atender o anseio de que há um mundo mais rico a explorarmos que o miserável cotidiano. Ah alma, não é por menos. A natureza cura. Cura depressão, estresse, ansiedade, medo, dor nas costas, dor de cotovelo, coração partido, escassez de novas fotos nas redes sociais, gordura localizada, artéria entupida, déficit de atenção, falta ou excesso do que se fazer e do que se pensar,  entretanto mais urgente que as nossas mentes inquietas e “feeds” vazios, é a nossa conexão com a natureza sem deixar rastros nocivos, entender que a saúde humana depende da saúde da natureza, da nossa conexão cultural e social no entendimento de que  “existe uma sabedoria espetacular na natureza” e não é apenas aprendermos SOBRE ela, mas aprender COM ela, pois quem aprende, respeita, protege e se une em prol de um bem tão vital.

No Paraná estão presentes 3 fitofisionomias do Bioma Mata Atlântica: Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Densa e Floresta Estacional Semidecidual. Este importante bioma é umas das florestas mais ricas em biodiversidade de plantas no Planeta, e desta Mata que encanta os olhos e preenche a mente, pasme e chore, resta menos de 15% no Brasil, sendo a maior parte concentrada na Serra do Mar, e o restante fragmentado.

Esses 15% que tanto resistiram enfrentam mais uma ameaça: o turismo depredatório.  E não falo aqui daquelas pessoas que estacionam carros e ligam o som no último volume em uma desastrosa playlist que detestamos, ou que chegam no cume da montanha com as caixinhas de som portáteis, cada qual com uma música diferente, para este mal basta a frase de uma amiga: “Se precisa de música alta no meio da natureza você não entendeu nada.” Falamos aqui do pior, dos incêndios provocados por fogueiras em acampamentos, fogos de artifícios, bombinhas, bitucas de cigarro, vidros e metais, que pintam com cinquenta tons de cinza nossas Matas.
Montanhas paranaenses arderam na negritude do ano perdido. Cordilheira do Santana, Morro da Palha, Anhangava, Ilha do Mel, o Morro do Pão de Loth somam-se ao mapa de #queimadas brasileiras. Não, não adianta dizer que é natural as queimadas por aqui. De forma alguma o bioma Mata Atlântica se comporta como o bioma do Cerrado, em que o calor, combustão é uma causa natural e até benéfica para as sementes em lugares específicos, não aqui. Os incêndios de causas naturais na Mata Atlântica são restritos aos raios de tempestades, e essas não dão o ar da graça pelo Paraná há muito tempo. A torneira das casas bem sabem disto.
A natureza é sábia, e a passos muito lentos e a um preço bem alto de fauna e flora perdidas, ela irá se recuperar. Talvez algumas espécies de plantas não retornem, nem mesmo os animais tão importantes para a manutenção e recuperação de áreas degradadas, com seu ir e vir de sementes, não aparecerão tão cedo. Quem sabe daqui uns meses, se chover, nasça um monte de gramíneas (capins) e herbáceas (samambaias), que possuem sementes mais resistentes, e que podem fechar tanto o solo e com tamanha agressividade a ponto de abafar ou retardar o crescimento de quaisquer outras espécies de plantas, como as arbóreas tão necessárias ao planeta.
Existe a responsabilidade governamental de ações pontuais e rigorosas negligenciadas ano após ano, agravadas nos últimos sem sombra de dúvidas, mas não nos exime da nossa responsabilidade individual, é e desta que será o nosso “tête à tête” aqui.

FOGUEIRAS CAUSAM INCÊNDIOS NAS MONTANHAS

Acampamento
Foto ilustrativa
Acampamento combina com roda de violão, que combina com fogueira, que combina com marshmallow, vinho, queijos, salames, frutas, histórias de terror ou de romances.
Perfeito, recomendamos e ainda faremos mais, indicaremos um artigo que saiu na GOoutiside, pode conferir que vale muito a pena, mas antes, e este MAS é o mais importante, estamos em uma estiagem histórica, uma “simples e inocente” fogueira em um cume de montanha e/ou florestas pode sair do controle, e você em um piscar de olhos transformar o paraíso em inferno.
Incêndios e queimadas
Foto ilustrativa. Fonte Unsplash
Já perdemos as contas de quantas vezes subimos o Morro do Cal nesta pandemia para apagar focos de incêndios de pessoas que estão fazendo fogueiras e churrascos no cume e matas.
Fogueira em qualquer lugar, sem conhecimento, sem segurança, sem cuidado, é crime! Com ou sem estiagem, sejam elas para churrasco ou para aquecer, não se faz na mata, não se faz em cume de montanha, não se faz em florestas.
Isto quer dizer que a fogueira ou churras da sua fuga para as colinas foi para o ralo? Não, não foi. Existe local e técnica apropriada. Antes da criatura ir direto para o cume ou mata com um saco de carvão ou um bocado de lenha, a criatura irá se informar, pesquisar e descobrir o lugar correto, se este for possível, e mesmo que encontre restos de uma fogueira usará o conhecimento e discernimento, já sabe que marcas de fogueiras anteriores podem ter sido realizadas por pessoas “inocentes” e sem conhecimento, ou seja, saberá que aquele local é inapropriado sem que alguém tenha que dizer.
Bitucas de cigarro, restos de vidro, queima de lixo, balões, fogos de artifícios também estão entre os vilões das queimadas da nossa Mata Atlântica.

ONDE ACAMPAR

Onde Acampar

A esmagadora maioria das montanhas e morros paranaenses são unidades de conservação, criadas e protegidas pelo Poder Público para serem preservadas. As unidades de conservação são:
  • Área de Proteção Ambiental
  • Reserva Ecológica
  • Reserva Biológica
  • Parque Nacional
  • Monumento Natural
  • Refúgio da Vida Silvestre
  • Floresta Nacional
  • Área de relevante interesse ecológico
  • Reserva da Fauna
  • Reserva de Desenvolvimento Sustentável
  • Reserva Extrativista
  • Reserva Particular do Patrimônio Natural
Morro do Cal, Campo Largo
Foto de Anderson Kaminshi. Instagram @kaminishi
O Morro do Cal, em Campo Largo, o Morro da Palha, em Campo Magro, são exemplos de APPs, ou seja, Áreas Ambientais de Preservação Permanente, uma Unidade de Conservação ambiental com a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo. Ambos Morros possuem cumes relativamente pequenos e declive acentuado, e entraram no mapa das aventuras de natureza em virtude de serem rampas de decolagens de parapentes, e preservados por seus praticantes ao longo destes anos através de Clubes de Voo Livre. No cume não há espaço o suficiente para montar barracas, pois além do óbvio, o risco de raios e não ser um abrigo para intempéries, são cumes que possuem uma alta demanda de admiradores de horizontes e decolagens de parapentes, e evidentemente que não se deve armar um “dormitório” com tantas outras pessoas e atividades disputando o pequeno e precioso espaço. Convenhamos que um monte de barracas armada neste espaço também não é o tipo de cenário que encanta na paisagem.
Infelizmente pessoas desavisadas além de montar a barraca neste espaço, ainda cavam valas ao redor, retirando a pouca vegetação que plantamos e recuperamos as duras penas ao longo dos anos.
A maioria das unidades de conservação possuem locais apropriados e permitidos para acampamentos. No do Morro do Cal e Morro da Palha, a área de Camping conta com banheiros, chuveiros, laguinho, trilhas e lanchonete em sua base.
Falamos da questão das barracas não serem permitidas nestes cumes de montanhas, especialmente as valas que são realizadas em torno que degradam o solo, entretanto a moto, a bike, e outros tipos de veículos ocasionem o mesmo processo.
motocross morro da palha
Foto ilustrativa. Motocross Morro da Palha, Campo Magro.
No Morro do Cal é proibido a circulação de qualquer veículo que não seja o trator da propriedade, na estrada de acesso para o cume, já no Morro da Palha o acesso dos veículos é proibido apenas na área do cume. O solo é arenoso, rochoso e cada vez que a moto/bike patina por ali ocasiona novas valas ou aprofunda as existentes, e claro, quando a chuva chega provoca erosões em menor ou maior grau exatamente no caminho criado pelas barracas, motos ou bikes. Lembre-se: são APP’s por razões claras, e regras como estas visam entre outros objetivos, proteger o solo, é nosso dever contribuir.

VAMOS BATER NA TECLA DO LIXO

Sacolas de lixos penduradas em árvores, lixos transbordantes em latões, isto não é destinar corretamente o lixo que produz. Nas trilhas, montanhas e morros não existe caminhão de lixo, muito menos gari. É responsabilidade de cada aventureiro (a) levar a sujeira que produz para casa e descartar corretamente.
Leve sempre com você um saco plástico para acondicionar o seu lixo.
Deixar para trás latas, plásticos, tampinhas e outros tipos de lixo, inclusive deixar o saco de lixo na natureza ou em um latão transbordante não é o caminho correto. Polui e pode causar incidentes com animais curiosos e ocasionar a morte da criaturinha.
Traga todo o seu lixo de volta com você 
Não deixe sua sacola com lixo no local, nem enterre o seu lixo. Esta ação polui o lençol freático, podendo até mesmo atingir uma nascente ou córrego.
Não jogue absolutamente nada na natureza, nem restos de comidas.
Nem todo resto de comida é adubo. Restos de comida em zonas rurais atraem ratos, que por sua vez atraem cobras, que picam as vacas, carneiros, cavalos e que podem picar você e sua família. Além de atrair pragas no cultivo de algumas culturas. Em áreas de preservação ambiental, restos de comida impactam no equilíbrio, modificando o comportamento de determinadas espécies.
Vamos aproveitar para falar da sustentabilidade do cotidiano: repense o seu consumo. O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico, podemos mudar a realidade apenas se repensarmos o que consumimos.

REGRAMENTOS IMPORTANTES DOS LOCAIS DE VOO LIVRE

Mantenha as porteiras, cancelas e cercas fechadas! 
Na maioria das vezes utilizamos propriedades particulares que permitiram o uso de sua terra para fins esportivos. A convivência pacífica permite que esta parceria perdure por muitos anos. Portanto, tendo encontrado uma porteira fechada, mantenha-a fechada. Uma porteira esquecida aberta possibilita a fuga de animais, podendo ocasionar um acidente de trânsito, a destruição de plantações, além é claro da perda financeira.
Não cause danos em cercas, arames, porteiras e outros bens da propriedade alheia.Caso tenha causado um dano, seja responsável por ele, financeiramente e moralmente.
Não invada áreas particulares: O sítio e o entorno do Morro do Cal são áreas particulares, sendo o acesso permitido após a avaliação e autorização dos proprietários. Não invada as propriedades particulares de maneira a manter uma relação de respeito, privacidade e harmonia com o ambiente e comunidade.
Não utilize estradas internas sem permissão, são particulares e por questões de preservação, segurança e manutenção não é permitido a subida para o cume com carros e nem a prática de motocross.
Estacionamento Sítio Morro do Cal: Mantenha os carros no local destinado para estacionamento, não sendo permitidos zerinhos, passeios pelo gramado de pouso, plantação e outros, muito menos som alto. Tenha atenção na aproximação dos parapentes, mantendo a velocidade baixa.
Obs: Durante os treinos no Aras Rio Verde, não deixe o carro bloqueando o acesso da estrada, estacione de forma a deixar espaço o suficiente para que outros carros e tratores do Aras circulem, mas também não danifique plantação para estacionar o carro.
Não circule pelas casas residenciais, e claro, muito menos entre nas casas, isso é invasão.

CUIDE DAS CRIANÇAS E DOS PETS

Foto Danuza Bueno
Mantenha as crianças em áreas seguras (bosque, margens do gramado de pouso, parquinho e lanchonete) evitando o gramado da área de pouso de parapente com o risco da criança correr na frente de um parapente que esta em procedimento final de pouso e ambos machucarem-se gravemente. Tenha em mente que o piloto de parapente quase nada poderá fazer para evitar esta colisão e se tentar o risco de machucar-se seriamente é considerável.
Recomendamos que expliquem para as crianças sobre esse risco ao mesmo tempo que zelam para que não aconteça, uma vez que é muito comum a criança atravessar o gramado correndo para ir ao encontro do pai ou da mãe que estão pousando e não observar o tráfego aéreo.
O mesmo vale para o espaço de decolagem e com cuidado redobrado, uma vez que estamos no cume de um morro ou montanha, um precipício, abismo.
Não permita suas crianças soltarem pipas nas áreas de voo. Essa atividade pode ocasionar um incidente ou acidente com o piloto, inclusive fatal.
OS PETS
Não alimente os animais sem o aval dos responsáveis!
No Morro do Cal seu animal de estimação é bem vindo, sendo necessário seguir as normativas abaixo para uma coexistência com respeito e harmoniosa.
  • Cuide do seu animalzinho na área de pouso: Esteja atento por onde ele anda e corre, mantendo a atenção na aproximação dos parapentes uma vez que se o cão invadir a linha final do pouso ele poderá se ferir e o piloto também.
  • Recolha os dejetos do seu bichinho! Crianças e pilotos utilizam o gramado e seria um desastre um piloto escorregar nas fezes de seu animalzinho no momento do pouso, assim como as crianças que brincam e deitam na grama.
  • O animal não deve oferecer riscos à segurança, ou seja se for bravo use equipamento de proteção, “focinheira” no animal, independentemente do tamanho, além de manter ele na guia, sendo medidas de segurança para os frequentadores do clube e para evitar confronto com os outros animais e até mesmo com as crianças.
  • As raças com tendências ao comportamento intempestivo  (Rottweilers, Fila Brasileiro, PitBull, Doberman, Bull Terrier, Dog Argentino, American Sraffordshire Terrier, Tosa Inu, Sharpei, Chow Chow e outros) devem estar sempre acompanhadas por seus donos e nas guias afim de evitar impresvistos. Os cães docéis e que estão acostumados a conviverem soltos, com crianças e outros animais não são obrigados a utilizar guias e focinheiras, sendo o dono o responsável por qualquer imprevisto.
  • Todo o animal deverá encontrar-se em perfeito estado de sanidade e imunidade, compreendendo estar livre de infecções e doenças contagiosas de quaisquer natureza e com as vacinas em dia. Todo esse cuidado é para não contaminar os outros animais da fazenda e bichos de estimação.
  • Caso seu cão esteja latindo de maneira exagerada e continua por um longo período procure acalmar seu amiguinho para que ele não gere irritação.

OUTRAS RECOMENDAÇÕES

Esquilo no Morro do Cal, Campo Largo. Foto Nicolle Muraro
Não retire frutas, plantas, pedras e etc sem necessidade.Seja consciente, retire das árvores apenas o que for consumir na hora, sem desperdícios. Assim, além de você, outros aventureiros poderão desfrutar, e o mais importante, não retiramos desnecessariamente o alimento das diversas espécies da fauna da região.
Não abra novas trilhas
Circule apenas nas trilhas já existentes de maneira a ocasionar o mínimo de impacto na natureza.

Para finalizar, transcrevo um trecho do livro Walden, A vida nos Bosques, de Henry David Thoreau.

“Fui para a mata porque queria viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se não poderia aprender o que ela a tinha a ensinar, em vez de, vindo a morrer, descobrir que não tinha vivido. Não queria viver o que não era vida, tão caro é viver, e tampouco queria praticar a resignação, a menos que fosse absolutamente necessário. Queria viver profundamente e sugar da vida até a medula, viver com tanto vigor e de forma tão espartana que eliminasse tudo o que não fosse vida. Artigo sobre A Vida Nos Bosques.”

Por Nicolle Muraro de Araújo
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